AGAYOTIO ISBN8 -323·0 12·8 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro,SP, Brasil) Gayotto, LuciaHelena Voz,partitura daação/LuciaHelenaGayotto.- São Pau Dft RTITU Rft lo :Summus, 1997. Bibliografia. ISBN85-323-0612-8 Dft I.Partituras 2.Voz I. Título. 97-3245 CDD-792.028 ftçft Índices para catálogo sistemático: I.Voz: Representaçãoteatral 792.028 ~ summus~ed;for;al VOZ.PARTITURA DAAÇÃO Copyright© 1997byLucia HelenaGayotto Capa: Raghy Desenhodacapa: SUMÁRIO MariaEugenia Apresentação de Lui; AugustodePaula Souza (Tuto) 7 Prefácio de Fernando J. Carvalhaes Duarte 11 Abertura 15 I AçãoVocal 19 Uma escutada voz no palco 19 Ação na voz.................................................................................. 20 Proibidaareproduçãototal ouparcial A voz dentro e fora de cena 21 destelivro,porqualquermeioesistema, A preparação da voz na criação............................................. 22 semoprévioconsentimentodaEditora. O movimento da vozem movimento 24 As característicascênicas na ação vocaL .............................. 28 Falaré agir............................................................................. 34 II Partitura Vocal............................. 37 Recursos vocais na partitura 41 Aspalavrase sua natureza no texto e na voz.. 48 Direitosdestaedição Comocompor apartitura 52 reservadospor SUMMUSEDITORIALLTDA. III "Ham-Iet"................................................................................... 62 RuaCardosodeAlmeida, 1287 Passagem pelo Teat(r)o Oficina 62 05013-001- SãoPaulo,SP Análises das partituras 66 CaixaPostal62.505- CEP 01214-970 Ophélia 68 Telefone(011)3872-3322 Polônio ;....................... 85 http://www.summus.com.br Hamlet 102 e-mail:[email protected] IV VozCênica: DomínioTécnico, Dimensão Criativa 110 Posfáciode José Celso Martinez Correa 118 Bibliografia 130 ImpressonoBrasil APRESENTAÇÃO COLABORADORES SUELY MASTER É com alegria que apresento este livro de Lucia Helena Gayotto. Acompanhei de perto suaelaboração, assim como tenho estado próximo da trajetória profissional da autora. Conheço a aguda inteligência, sensi bilidade e inquietação da Lucia, e as vejo intensamente investidas aqui, seja no trato com as técnicas e os conceitos de que lançou mão, seja na PASCOAL DA CONCEIÇÃO narrativae naanálisedas experiênciasque, como fonoaudióloga/prepara dora vocal,desembocaram neste livro. Apresso-meem dizerque oleitorencontraránestetrabalhoumacom binaçãode vigoresutilezana exposiçãodas concepçõesde voz ede pre paraçãovocalcom asquaisaautoraopera.Combinaçãoque permitepensar e preparar- de maneiraconsistente e inovadora- a voz para seus usos profissionais,maisespecificamenteparainterpretaçãoteatral,maspodendo ser útil também no canto, na locução, na docência etc. São três as razões de ser do livro; as razões que se articulam e se AGRADECIMENTOS completam. A primeira é a afirmação de que voz é ação, sobretudo se proferidadesdeos afectos,da capacidadehumanade afetare ser afeta do pelo Outro (nossa alteridade). Quando é assim, a autora nos mostra que a voz age (n)o mundo que engendra, tanto em quem a emite quanto em quem aouve. Asegundarazãodiz respeitoaofato de que avozésempreoutra,isto Adriana da Cunha, Alleyona Cavalli, Bia Gayotto, Fabiane M. Stefani, é,umaemissãovocal - articuladaou não - podeser repetida. mas nun Mura Suzana Berlau, Marcelo Drumrnond, Maria Leonor da Cunha ca de modo idêntico; ao contrário, ela traz marcas- mesmoque sutis Gayotto, LésliePiccolotto Ferreira, LuisAugusto de Paula Souza (Tuto), da singularidade de cada situação ou experiência. É que uma voz com Luis Carlos da Costa Gayotto, Sandra Madureira, Silvia Pinho, Teatro ação,paraaautora,éaquelaque arrasta,em seu movimento,assensações Oficina,VeraLuciaFerreiraMendes,ZéCelsoMartinezCorrea,aos meus e os estados subjetivos inéditos, fazendo com que ganhem existência so alunos de voz, a todos os ateres que deliberadamente buscam ação vocal. nora e transitem até incidirem e ressoarem no seu destino. 7 A terceira razão é da ordem de uma escuta, de um desejo e de uma ação vocal,tocaoinactoouavidacomo processualidade,como algosem invenção:construirésistematizarumaforma de apreenderaaçãona voz. presefazendo,como umdevirpermanente. Desta ação acada vezrenova tornando comunicávelsuapercepção epotencializando seu uso.A autora da,eleinstilaanecessidadeeodesejodeexpressão edeescuta noencontro desenvolve,naposteridade deStanislavski,umoperador- apartitura vo com o Outro;o que implica iralém do senso comum edo bom senso, en cal-quepermitetraçarcartografiasdeemissões vocais, paraquesepossa trando em contato com aquilo que aautora chamou de"forçasvitais". perceber e pensar o quanto, o como eo porquê da ação numa vozem um Diferentes sons,silêncios esentidos nosesperam. Quando nospermi dadomomento, bem como suas relações comafala,com ocorpoecom os timos escutá-los, eles contagiampelamúsica, pelos ruídose pelos ecos de contextos onde éproduzida e efetuada. uma vozque não é apenas suporte para estruturas lingüísticas convencio Istojá seria o suficiente para atestarafecundidade do livro,mas,no naise utilitárias, antes um sopro/linguagemafectivoque,quando entra em entanto, ainda nãoétudo.O modo eascondiçõesque incitaramsuaescri ação,temopoder deengravidar (engendrarvida)também alínguaeafala. ta são também fundamentais. A gestação do livro veio de um encontro, não de um, mas de vários. Encontrocom o trabalhode fonoaudióloga e Lui; Augustode PaulaSouza (Tuto) preparadora vocal de elencos teatrais noqual Lucia vai desdobrando sua SP/outono/1997 inquietação em relação às concepções de trabalho vocal que isolam as técnicas de preparação e de cuidado vocal dos usos afectivos e de cria çãodesentidopelavoz.EncontroradicalmenteimportantecomoTeat(r)o Oficina (CompanhiaTeat(r)o OficinaUzyna Uzona) e, por meio deste, com Shakespeare; o que parece ter funcionado como catalisador das transformações quejágerminavam, culminando, até aqui, no livro e no amadurecimentode uma posiçãoe de uma práticaque põem oconheci mento técnico-científico da fonoaudiologia a serviço da sensibilidade, particularmentenacriaçãoteatral, mas tambémemqualqueroutrocam po onde o uso das potencialidades da voz faça diferença. O Teat(r)o Oficina acolheu a procura e a experimentação de Lucia, permitindoqueelamergulhasse namontagemquefazia de"Ham-let".Uma dupla articulação:de um lado, com uma companhia de teatro aberta àdi mensão trágica da criação teatral, do desejo e das hibridações; de outro lado, e não por acaso, com um texto visceral de Shakespeare. no qual o caráterproblemático daexistênciahumana élevado às últimas conseqüên cias, e onde o par texto/voz tem papel decisivo, como aliás é comum na dramaturgiashakespeariana. Território maisdoque propício paraqueaau toraespreitasse aação vocal,em seus múltiplos agenciamentoscom otex to,comamontagem,comadireçãodapeça,comosataresecomopúblico. Éapartirdaíque Lucia desenvolve sua investigação,dialogando tam bémcom outros estudiosos da vozedoteatro,entre osquais: CecilyBerry, Grotowski, Eugênio Barba e, sobretudo, Stanislavski. Nesta trajetória, ela vaitomando explícito e operativo seu conceito de ação vocal e compondo as partituras vocais: cartografias e emoções das cenas particularizadas em "Ham-let", pormeiodosmodos pelos quaisosrecursos vocais foram utili zados pelos atores. O livro corre por fluxos rápidos e insinuantes, numa narrativa densa eapaixonada. Em última análise,otextoé arrebatador porque, através da 8 9 PREFÁCIO Em Voz, Partitura da Ação assistimos a um ritual de contato: uma fonoaudióloga, consciente de seu ofício (a emissão da voz) mergulha no teatrodeZé CelsoMartinezCorrea. Um ritualem que odomíniodo fisio lógico, do trabalho com os "recursos vocais" é ultrapassado, ou melhor, expandido. Acompanhamos no texto todo o percurso que Lucia Helena atravessa, ao entregar-se à experiência teatral, na busca de sua atuação profissional comopreparadoravocaldeatores. Oscapítulosabrem-secomo fases deste ritual:antes da emissão da voz (para aqual Lucia Helena re torna apenas no final),é preciso escutar... E aqui ela segue à risca o pre ceito do próprio Zé Celso (para seu teatro de Relação): o texto todo reveste-se destaentrega a umaescutaingênua, "não envenenada". Uma escuta, digamos, não muitofácil: aproduçãoda voz neste teatro é sempre mutante, é sempreparte de ações "instauradorase disruptoras"... Teatro de presentificação, no qual a constante mutação é essencial. Fato para oqual LuciaHelenasempre retoma, em todos os instantesdo texto, e tomainclusivecomotemadesuaconclusão: aênfasedadaàtransitoriedade da voz (nuncaemdemasia) alerta para um paradoxo inexorávelque existe entre a variaçãodo fluxo vocal e a tentativade fixá-la. Depois da escuta, a ação. No texto há sempre um espelhamento: a vivência pessoalésempreintercaladacomaprogressivaconceituaçãode "ação vocal" e "partitura vocal", um conceito central e de sua aplicação prática.Adelimitaçãosedáemum percursonoqual LuciaHelenase vale deoutrasexperiênciasteatrais.Nestecontrapontocomoutrospreparadores vocais, diretores, atores, são traçadas analogias e semelhanças com sua vivênciano Oficina,e, apartirdelas,abuscavaitomandocorpo. Oobjeti- 11 vo"científico",digamos,ésefazervaler desta experiênciasingularecami verte-se sobre oindivíduo, sobre atotalidadeque érefletidapela vozque é nhar para uma generalização do trabalho do preparadorvocal no teatro. verdadeiramente singular (fazendo uso aqui de idéias de Edson da Cunha Neste contraponto a "ação vocal" aparece primeiro como registro do Swain, o "dentista-filósofo", como quer José Miguel Wisnik). Saindo do trabalho pessoal de Lucia Helena com os atores do Teatro Oficinae é de ortodoxo e caminhando para o paradoxo, acompanhamos a passagem de pois generalizada (o termo em si conjuga Stanislavski e Eugenio Barba: uma"ortofonia"emdireçãoauma "para-fonia".Esta simrealmentehuma "açãofísica", "açãosonora").Intervençãonadinâmicacênica, confluência nae universal. A in-vocação por último,e antes da leitura: Eureka! Evoé! de "recursos vocais" e "forças vitais" do ator,resultantede sua interaçãoe contracenação, a "ação vocal" é depois utilizada como um conceito para Fernando J. Carvalhaes Duarte que melhorseentenda/escute avoz do ator, no que ela tem de específico. A partir dele uma interface éproposta,para oqual convergeaativida de da fonoaudióloga, da preparadoravocal:a "partitura vocal".Traços so norospresentesemuma"açãovocal"sãodetectadosetranscritos.Asdiversas modulações vocais tornam-seelementos de uma "géstica" vocal (na medi da em que o corpo, em seus gestos, se deixa transcrever...). A "partitura vocal" surge apartirdoator(comoresultadofinalde várias fases de trans crições:"partiturado papel", "partiturainterior"...),e volta para ele. Misto de registro e elaboração, ela se define como uma ferramenta de trabalho, tanto para o preparador vocal quanto parao ator: "o desejo da ação vocal levaàelaboraçãoda partituravocalevice-versa".Alinearidadeda notação (um mapeamento de gestos, univocamente transcrito) é apenas aparente:a "partituravocal" é o instantâneo de uma possibilidade... Voz.Partitura daAçãoéuma contribuiçãotantopara osprofissionais da voz, em especial para atores, quanto para fonoaudiólogos e/ou preparadores vocais. Não há, no Brasil,uma tradição do trabalho "técni co" da voz do ator.Esta ausênciaé talvez responsável pela constante crí ticaàemissãovocaldosatores brasileiros:háuma rejeiçãotanto aomodelo de ressonânciahistoricamenteproposto (confundindo necessidades acús ticas da"vozde palco"comadicçãoencasacadada"ernpostação")quan to ao trabalho fisiológico com os recursos vocais, visando uma "ortofonia"... Neste ritual de aproximação entre o ofício do fonoaudiólogo à inter pretação teatral, Lucia Helena vai paulatinamente chegando às sedutoras descrições de três "ações vocais" individuais.Falas cênicas de "Ham-let", umamontagemdoTeat(r)oOficina, umaaçãoteatral vivenciadacomopon todepartida edechegadadotexto.Acompanhamosascenas, eosinstantâ neos sonoros as tornam presentes: "Ophelia", Polônio e Hamlet. Ações, partiturase...avozdo ponto devista fisiológico. Chega-seno último capí tulo à descrição das vozes de Alleyona Cavalli, Pascoal da Conceição e MarceloDrummond, atores que "presentificaram"ospapéis, eàsinterven ções da preparadoravocal. O percurso de Voz. Partitura da Ação,do teatro à terapêutica vocal, reflete o percurso inverso daquele vivido pela autora. No final, o texto 12 13 ABERTURA Avozinterferenassituaçõesdavidaquandorealizadacomoação.Esta pode seruma buscadeliberadapara o falantee,especialmente, tambémum objetivo para o profissionalda voz:atar,cantor,locutor,executivo,político, professor e advogado, entre outros. Uma voz que com ação escancare os desejos,'conquiste asintenções no texto, e se dirija aos propósitos de cada profissional,serealizandocomomovimentovivoetransformador. Foi nesta ópticaque comecei aperceberavoz,mais especificamente ado ator.Como fonoaudióloga,era habitual,em terapias e/ou treinamen tos, o enfoque nas necessidades vocais básicas para se estar no palco: aspectos como articulaçãoeprojeção;e nasaúde vocaldoatar.Mas,par ticipando de montagens de espetáculos teatrais, como preparadora vocal de elencos, acompanhando todo o processo criativo desde as primeiras leituras e ensaios até a estréia do espetáculo, ficou claro que, além de cuidarda vozdosatorese dar conta dassuas necessidades, deveria inter virnaconstrução vocal de seus personagens, acrescentandoeste trabalho àquele habitualmente realizado. Assistindo aespetáculos,notei quealgumasvezesavozestavasinto nizada com as características do personagem, mas a maneira de usá-la podia serprejudicialaoator;emoutras,elacumpriaasnecessidadesbási cas para o palco, mas estava distante das situações vividaspelo persona gem, muitas vezes incomodando o espectador que não via em cena uma persona; e ainda, casos em que o ator poupava sua voz na tentativa de preservar a saúde, não se permitindo experimentar novas possibilidades de emissão. Por todos estes ângulos de escuta havia uma falta que me inquietava, conduzindo-me às questões: Como trabalhar a voz colocan- 15 do-a não apenas a serviço do ator mas também do personagem? Como Polônio e Hamlet - são expostas e analisadas, a partir da emissão de concretizaras ações vocais no texto falado? E muitas outras. atores desta Companhia, na montagem da peça "Ham-let", dirigida por Observando vozes bem trabalhadas cenicamente, notei que a emis ZéCelso Martinez Correa.Asanálises sãoreferenciaisimportantesparaa são se afinava com a situação da cena e com as ações do personagem; elaboração de partituras, por profissionais da voz e preparadores vocais, eram vozes criadas apartir das exigênciasdapeça, atuando decisivamen pois como sãofeitas à luz da concepção de ação vocal, estabelecem liga te na trajetóriado espetáculo. çõesentre ascaracterísticas davozedesuas situações cênicasnainterpre O desejo de que os treinamentos de voz fossem engendrados pelo tação. processo criativo foi, aos poucos, clareando o que era ação vocal: a voz Ocapítulo "Vozcênica: domínio técnico, dimensãocriativa" encerra como "arma"de primeiranecessidade para oator, devendo interagircom olivro.Nele,apreparaçãovocaleainterpretaçãodoatorsão(re)visitados, as situações cênicas sugeridas pelo texto, pela encenação e na relação fazendo da técnica e da criação vocal cúmplices para aconcretização do comopúblico. Oprimeirocapítulodestelivro,''AçãoVocal"trazasemente trabalho da arte teatral. desta dimensão apartir de uma certa escuta da voz no palco. Neste contexto, os enfoques do trabalho de voz - necessidades bá sicas para o palco, saúde dos atores e a construção dos personagens fundem-se, sendo viabilizados e priorizados pela noção de que a voz é umaaçãoquefazdiferençaàquilo queestásendoencenado.Opreparador vocal participa como um facilitador na procura de caminhos para se al cançareexercitar ação vocal. Na busca de mapeare praticar ação vocal, absorvi, durante ensaios de peças, o trabalho de interpretação. Observando as anotações que os atoresfazem noseutexto,elaborei,apartirdaí,umregistro davozcênica, oqual nomeei PartituraVocal. Ocapítulo IIdesenvolveesteregistro/mapadaação vocal,demaneira associada às anotações da "partitura do papel", feita pelos atores no texto teatral,queéumareferênciaimportante detrabalho interpretativonotexto. Estecapítuloapresentaaindaosrecursosvocaisescolhidos paraanálisedas partiturasecomo trabalhá-los em qualquer fala,texto, discurso. Estapartiturada vozfalada émais uma contribuição aumtema que tem sidoobjeto deinteressede autores nacionais einternacionais. Definir ação vocal emostrar como ela sedánavozdosatores, pormeiodaanáli sedepartituras,abreumcampodeintervençãoedecompreensãodavoz, trazendo subsídios ao trabalho de preparação vocal, assim como instru mentalizao ator nacriação de seus personagens. Apráticadaação vocal eautilizaçãodapartituranão selimitamao ator e ao texto teatral, podendo ser aplicadas aqualquerprofissional, em sua criação expressiva, ampliando também o campo de atuação do preparadorvocal,sejaelefonoaudiólogo, diretor, ator,professordeorató ria ou cantor. O terceiro capítulo, "Ham-let", é iniciado por minha trajetória no Teat(r)oOficina,poisaconcepçãodepartituravocalfoiretrabalhadaquan do fazia preparação vocal com o elenco da Companhia Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona. Aqui, partituras vocais de três personagens - Ophélia, 16 17 I AÇÃOVOCAL UMA ESCUTADAVOZ NOPALCO Ouvi muitas vozes em cena. Absorvi, atenta, as substâncias da voz, seus movimentos e diversidades. Fui percebendo que ouvir os recursos vocais isoladamente não dava conta daquilo que atravessou meus senti dos,queera,com certeza, misto destes recursoscom outros elementosda interpretaçãoedas sensações queestes provocavam. Esta escuta permitiu umrefinamento noqual aaudição reconhece, aomesmo tempo, ascarac terísticas da voz e sua relação no plano das afecções. Neste estado de escuta, otom e aintenção, aspausas eo subtexto, ovolume easituação, convergem num fluxo necessário de ação na voz. Sintoquenosmomentos emqueouço umaemissão vocaldequalida de, sou arrebatadapor uma espécie de "esquecimento" de mim, como se fosse envolvida por uma trama invisível, e só depois éque me dou conta de aquela ter sido uma boa interpretação vocal. Importa não haver "ruí dos" interferindo nesta situação. Esses instantestêm algo de pleno em si. Estamos, na verdade, mergulhando no universo dacriação artística, onde aconsciênciaentrega-se complacentementeaumprazerestético esereliga aalgo vital. Esta voz faz parte do personageminterpretado, acolhe meus sentidos, me abre para devires em cena. Sua tensão, seu "silêncio", seu desejo são apropriados pelo ator e por quem o ouve já como criação, como algoqueestá nascendo. Umavozem movimento que nãoéigualao quefoiontem; está presentehápouco, agora, ecriaonovoacada minuto; já é umdepois. Édo "eco" desta situação que brota aelaboraçãodo meu trabalho de preparação vocal. 19