TRABALHOS DB ANTROPOLOGIA E ETNOLOGIA VOLUME XXV - FASC. 2-4 PORTO SOCIEDADE PORTUGUESA DE ANTROPOlOGA E ETNOlOGIA 1985 SUMARIO Palavra.~ de A bertlira , por VitoI' Oliveira Jorge 193 ESTUDOS E ENSAIOS A oClIpa,'lio do Bronze Final da Citunia de S, JLL/ilia , ell1 Vila Verde, Caracteriza('iio e crol1 o/ngia, por Manuela Martins 197 Nuevo,l' daW,l' palillo/';gicos sobre [a agricultllra fJl'eilis/(lricu ell Galicia (Espai'ia), por M" Jeslls Aira Rodrigucz e J, M, Vazquez Varela 241 Aprnximucioll u la Pre/Zistoria de Vigo (Espaiia), por Jose Manuel Hidalgo Cunarro " 253 Las dil'indades indigen{/'I' de la Hi,l'/Jania Prerrolnal1a, En PO,I' de Will 1111'10 d%gia, por Blanca Garcia y Ferruindez-Albalat 275 Bm,Hls e bruxos 110 Norde,lte a/garvin, Algumas representa("rles da d(}en~' a e da ClIra, pOl' Cristiana Bastos '" 285 Ganado porcino: I17nilalidad de existencill y pape/ en el seno de I1l1a comu nidad /'lIral de Galicia (Espaiia), por J, Antonio Fidalgo Santamarifia 297 Em 1111'110 a /a ca('hupu: una comic/a tipica caboverdealla, pOI' Hector Bias Lahitte e Marta Maffia de Potcca 327 Livros de devassa l' etllotexlOs, por Belarmi no A(onso 347 DOCUMENTOS Illedito,\' ill' Trine/aile Coelho COIll interesse efllogrrificn, pOl' Vinle Moutinho 361 VARIA Noticia sobre (/ de,l'cobert(/ de I/OV(/S pilltu/'os rlll,e,ltre,1' no (hi /m en de Fontrlo (Paral/flO,I'dll Beir(/ - Seia), pOl' Eduardo Jorge Lopes da Silva 38 I MicrrJIitos geolJu?tricos provl'niel/tes de mOl/wncllto,\' megaliticos do Norte de Portugal: breve nota, por Vitor Oliveira Jorge 38(i A I/I!crlipo/e mega/itica da Serra do A Iv(/o, par Domingos J, Cruz 396 Uma fibll/a tipo transmontano do pO)loado de S, MartinllO (Caste/o Branco), por Manuel Lcitao 407 Aluslio a loura comprada em Melides em 1712, por Jose Antonio Falcao 410 o Cante Alelltejallo, por Ant6nio Marvao 412 Em tomo das implica{,oes do conceito de cultllra ell1 Arq/./e% Ria, por Vitor Oliveira Jorge 4.15 Notas de LeilllT(l, por Eduardo Jorge Lopes da Silva e Vialc MOlltinho 419 Ensino: program a de Antropologia Geral da Faculdade de Ciencias de Coimhra 423 PAL Noticias ... 427 Em 15 de Marro de . ACTIVIDADES DA SPAE datura a Direcriio da Soci Do seu programa constaVall Nota de EsclarecimelllO 431 laraa da mesma em sede p Relat6rio e COnl(l~· da Direc("iio 435 tivos; a inventariarao do e.\ sessoes cientfficas; a revisi Ses.\"(Jes cienti/icas e conjerPncias 440 nacional e internacional de Assembleias Gerais ... 448 Subjacente (/ este pro~ Biblioteca 450 revigorar a vida da Socieo a todos as interessados em , Estatulos da SPAE 451 damente ao.l' jovens, sem e, Lis({/ de s{}cios dll SPAE 460 atingido por diversos tipo Regulamento da Revista 465 caracteristica.l· dos amp los ceptive/ de se trans!ormar segundo Lima optica interdi halhos motivados por uma A nlln/a metodologia cientijic Uma das preocuparo/ eleita, jui a de dar colllinu) A revista Trabalhos de Alllropologill e Elnologia 6 uma publicacao destinada it agora renovada por aque/~ Jivulga~ao e discussao de temas e assuntos nos Jiferentes dominios Ja Antropologia, gama mais ampla de auto visando os fins estatutarios Ja Sociedade Portugllesa de Antropologia e Etnologia. e o seu principal objectivo consiste em encorajar e facilitar 0 desenvolvimento da dessa nova orienta{:ao. ai, Antropologia em Portugal, contribuindo, assim, para 0 seu avan90 como ciencia. Procurar-se-a, na medida dc o conteudo dos T. A. & E. abrange diferentes areas e especialidadcs cia Antro mas para tal sera necessaria pologia, numa pcrspectiva actualizada e interdisciplinar. PoJer{l, assim, iJlserir artigos que existem jci em grande e cstudos de car{lcter teorico e metoclol6gico, discussao dc problcmas actuais cia prestem a sua colaboral.:ao. ( Antropologia, sintcses teruaticas. resultados de investiga~ocs recentes, "Iem de uma rubrica denominada Varia onde tcrao lugar pequeoos textos, notas de leitura, infor geiros. Ideal seria que. de ma90cs de cariicter geral e noticias sobre reun.i6es cieotificas, nacionais e internacionais. inclusivamente espel/rar as Sera, tambem, meio de comunica9ao entre a SPAE e os sellS membros, publicando, aludimos, em dominios COflll em sec9ao propria, relatos das suas principais actividades (relatorios, resumos das se revela como um dos cam) sessocs cientificas, movimento da Bibliotcca, etc.). a ria drea para a qual a Soc A revista encontra-se aberta colabora~ao dos membros da Sociedade e de outros investigadores, naciooais e estrangeiros. que esta revista se nao limil Trab, Al1!l'op. e EII/O/, - vul. 25 - faxe. 2-4 -1985 A OCUPACAO DO BRONZE FINAL DA CITANIA DE S. JULlAO, EM VILA VERDE CARACTERIZA<;AO E CRONOLOGIA POR Manuela Martins (*) INTRODU<;AO A importante situac;:iio geo-estratcgica da citaniu de S. Juliao, ern a Vila Verde, em relac;:ao bacia do curso medio do rio Cavado, levou-nos a empreender, entre 1981 e 1985, varias campanhas de escavac;:ao, ao longo das quais procuramos estabelecer a sequencia de ocupac;:ao do povoado, datal' e interpretar 0 seu sistema defensivo e relaciona-lo com as diferentes etapas cia vida do povoado. A concretizac;:ao destes objectivos implicou a abertura de varias son dagens em diferentes pontos da estac;:ao, estrat(~gia de escavac;:ao que previligiou claramente uma leitura estratigrMica e temporal da ocupac;:ao do sHio. Esta opc;:ao metodol6gica foi considerada como fundamental e prioritaria no ambito do nosso projecto de investigac;:ao , que visa 0 esta belecimento de urn quadro cronol6gico da evoluc;:ao do povoamento da bacia do Cavado. Entre os resultados mais significativos obtidos no estudo deste povoado destacam-se os que se relacionam com a sua primeira fase de ocupac;:ao identificada como correspondendo ao Bronze Final. Apcsar de nao eonstituir novidade que grande parte dos castros do NO peninsular deve tel' tido a sua origem nessa epoca (MALUQUER DE MOTES 1975, 256; EIROA 1980, 71-84; CALO LOURIDO e SIERRA RODRIGUEZ 1983, 19-85; ALMEIDA 1983, 70-74; SILVA 1983-84, (*) Assistcnte da Universidadc do Minho. 198 Malluela M arlills ;l (}cLlpo('lio do Brallze j 121-129), a verdade e que os elementos publicados ate a data, relativos a Na base das vertentes esse momento da Proto-hist6ria da regiao, sao bastante esc ass os e clispersos, rio Homem. No sope das \ nao permitindo ainda uma visao clara sobre os contextos culturais, ou as da ribeira do Loureiro, tan caracterfsticas clessa ocupac;:ao. Geologicamentc 0 mon A clivulgac;ao cle alguns dos daclos relativos a ocupac;ao clo Bronze de grao medio, ou fino a Final da citfll1ia cle S. Juliao, parece-nos pois ser, neste contexto, bastante (TEIXEIRA et al. 1975). oportuna. parte rnais alta da estac;:al A importancia destes clados releva, por conseguinte, nao de uma blocos graniticos. novidade, em termos de cronologia da ocupac;:ao clos castros, mas clas N as encostas, observa-s particularidades que permitiram detcctar e cstudar 0 nilcleo primitivo clo a tHintico, actualmente cobe povoado cle S. Juliao, bern como as caracteristicas que este revelou. mineas. Apenas na parte n Com efeito, foi possivel delimitar com precisao a area funcional do pinheiros e cle eucaliptos. povoaclo no Bronze Final, estudar a sua estrutura clefensiva e 0 tipo A propriedade do mon cle estruturas habitacionais que 0 caractcrizam e obter ainda urn volume cia Ponte cle S. Vicente e do significativo de achados ceramicos e metalicos, que permitem dar coerencia no distrito de Braga. a alguns aspectos da vicla material desta comunidacle. As coorclenaclas geogra POl' outro laclo, as duas datas absolutas, obticlas por radiocarbono, que regista 297 m de altitudG uma para a construc;ao da fortificac;:ao e outra, para llm dos niveis de dos S.C.E., as seguintes: 41 ocupaC;ao de uma das cabanas escavadas (MARTINS 1986, 159-160), constitllem um contributo importante para 0 estudo da primeira fase de ocupaC;ao dos castros do Norte de Portugal. BREVE HI: e A citania de S. J uliao A ESTACAO: GEOMORFOLOGIA E LOCALIZACAO bibliograficas sumarias (CO 1909, 6; FONTES 1919, 1 Situaclo na mal'gem direita do rio Homern, poucos quil6metros a N a clecacIa cle 30 clest montante cia confluencia claquele curso cle agua com 0 Cavado, 0 monte relativamente extensas, real de S. Juliao possui uma posic;ao estratl~gica assinalavel no relevo da vizinha freguesia de Calcleh regiao (Est. I). resultado desses trabalhos I Geomorfologicamentc, 0 monte corresponcle ao extremo de uma crista rcsidenciais, em cluas plata! montanhosa, cle orienta93o NE/ SO, que descendo cia Serra Amarela, 1971 , 133-138), onde actll~ paralela ao Homern, vern precisamente morrer no cabec;o cle S. Juliao. tac;5es circulares, algumas c , As suas vertcntes norte, oeste e sui pendem abruptas sobre 0 vale e que corrcspondem ao reapr dao ao monte uma configurac;:ao c6nica, quanclo vis to cle Norte, ou cle As caracteristicas dest e Oeste. A vcrtente este, mais suave, esbatendo-se em desniveis sucessivos, proceclente das escavac;:5es r , que correspondem as plataformas do povoado. tram uma intensa romaniz, o monte encontra-se assim virado ao valc c controla, quer vasta 1958, 281-282,298, 300-30 extensao cia larga e fertil bacia clo Homem, guer aincla cia bacia do Cavaclo. nas sonclagcns que rcaliza No entanto, as suas caracteristicas de csporao, asseguram-lhe boas defesas (MARTINS 1984, 11-27). naturais, inexistentes apenas a NE, onde 0 cabec;:o entronca nos restantes Entre os objectos expl relevos do cordao montanhoso. da ciHi.nia, clestacam-se tres I A OClIfJ(((,1I0 do Bronze Filial til! cilr'illia de S. Jalillo, em Vi/a Verde lYLJ Na base das vertentes leste e suI con'em diversos subaflucntes do rio Homem. No sope das vertentes norte e oeste, dominam os afluentcs cia ribeira do Loureiro, tambem Iigada a rede hidrogrMica daqucle rio. Geologicamente 0 monte integra-se na mancha de granitos porfir6ides, de gran medio, ou fino a medio, caracteristicos da regiao de Braga (TEIXEIRA et af. 1975). 0 substrato rochoso aflora a superficie na parte mais alta da esta9ao, onde se regista uma imponente massa de blocos graniticos. Nas encostas, observa-se um solo de espessura variavel, tipo ranker atlantico, actualmente coberto por vegeta9ao rasteira de herbaceas e gra mineas. Apenas na parte mais baixa das vertentes existem manchas de pinhciros e de cucaliptos. A propriedade do monte esta rcpartida aetualmente pelas freguesias da Ponte de S. Vicente e do Coueieiro, ambas no concclho de Vila Verde, no distrito de Braga. As coordenadas geogrMieas do sitio, medidas do seu ponto mais alto, que regista 297 m de altitude, sao segundo a folha n.o 42 da carta 1 :25.000 OOS S.C.E., as seguintes: 41° 41 ' 15" Lat. N; 0° 41' 14" Long, E de Lx. BREVE HIST6'RIA DAS PESQUISAS A citania de S. Juliao e eonhecida desde 0 seculo XIX por refercneias bibliograficas sumarias (COSTA 1868, 211; LEAL 1874, 44; BELINO 1909, 6; FONTES 1919, 198-210). Na deeada de 30 deste seculo a estat;ao foi objeeto de eseavat;6es, relativamente extensas, realizadas pelo P: Joao de Freitas, paroeo da vizinha freguesia de Caldelas, perteneente ao coneelho de Amares. Como resultado desses trabalhos foram postas a descoberto duas amplas areas resideneiais, em duas plataformas da vertent . leste do monte (FREITAS 1971 , 133-138), onde actualmente se observam varios conjuntos de habi ta96es cireulares, algumas com vestibulo e outras de planta rnais irregular, que correspondem ao reaproveitamento de estruturas anteriorcs. As caraeteristicas destas estruturas bern como a parte do esp61io procedente das cscavat;6es reeolhido no Museu Pio XII, de Braga, dcmons tram uma intensa rornaniza9ao destes sectores do povoado (ALARCAO 1958, 281-282, 298, 300-301), que alias tivemos oportunidadc de confirmar nas sondagens que realizamos nessa vertente, lima deIas ja publicacla (MARTINS 1984, 11-27). Entre os objectos expostos naq ucle museu dados como provenientes da citania, destaeam-se tres pe9as em bronze: urn fragmenro de urn machado, :wo M anuela A1artills A pel/pal·li() do Brollze provavclmente de ta[ao; uma ponta de lan~a de alvado, fragmentada e urn Os Iimites da pequemi pequeno machado tambem de alvado (KALB 1980, 20 e 38; COFFYN curvas de nivel de 288 e 2 1982, carta 42). Embora se desconhe\;am as circunstancias em que estas medindo cerca de 30 m de pe~as foram encontradas, elas sugeriam uma ocupa~ao do povoado numa A massa cIe afloramen a cpoca anterior Idade do Ferro. oeste e sudeste cIa plataforma Foi no decorrer da escava~ao de uma sondagcm realizada nos limites seciores, bern cIefencIicIos peE do tabuleiro superior da estac;ao, entre 1982 e 1983, que deteetamos foi construicIa uma linha de estruturas e esp61io que poderiam ser culturalmente corrclacionados com \Ciro, destaeancIo-o do rest aqueles objectos. Posteriormcnte, foi possivel cIclimitar com precisao a area para NE (Ests. III e IV). ocupada pela comunidacle cIo Bronze Final, quc se instalou no monte As varias sondagens r. cle S. J uliao. recinto fortificado, permitir Na sonclagem refericla, designada por corte 1 do Sector B (Est. II), relaeioml.veis com a ocupa"a que abrangeu uma area cle 18 m de comprimento por 5 de largura maxima, ocorrem de forma esporad' foi iclentificacla uma estrutura clefensiva, cOIlstituicia por urn talucIe cle terra cedlmicas de periodos mai e pedra e por urn fosso exterior, eseavado na arena granitiea. As duas caso do corte 4 (Est. 11). A estruturas, que se disp6em em areo LIe clrculo, einturando a pequena (corte 1), foi observada, n plataforma superior do monte, delimitam uma area residencial que foi materiais eorrelacionaveis e sondada nos anos posteriores. supor uma lltiliza~ao mais inl Em 1984, foi aberto 0 corte 2 do Sector B (Est. II), que abrangell Todavia, 0 facto de t lima area com 8 m de comprimento por 3 de largura. Este corte foi no in terior do espac;o forti~ implantacIo no limite norte do tabuleiro, perto da capela. Ai foi observada nuclear do habitat, pelo que uma interessante sequencia estratigriifiea que se desenvolve ao longo de 2 m Final, fora cIo recinto, de\1 de altura de sedimentos. Esta sequencia regista varios momentos de ocupac;iio hahitantes, clo que por uma cia plataforma, todos eles atribulveis ao Bronze Final. Apenas ao nivel cia camada humosa foi possivel eneontrar urn escasso numero de fragmentos cIe ceramica, que [oi inserido numa fase adiantada da IdacIe do Ferro. 2. Estrutura defensiva Em 1985 uma outra area do mesmo sector viria a scr intervencionada, clesta vez localizacla numa zona contigua ao lado interno do talude defen A pequena area habital sivo. Esta sondagem, designada por corte 3 (Est. 11), pretendeu conEirmar uma estrutura defensiva fon a estratigrafia observada no corte 2 e obter elementos para caraeterizar as exterior, escavado na arena estruturas habitacionais do povoado, relacionando-as directamente com a configura\;ao nitidamente cir , estrutura defensiva. cIo povoado, onde as defesa o talude assenta numa CARACTERIZACAO DO POVOADO DO BRONZE F1NAL cobre a arena granitiea. A ponder a urn paleosolo, esta 1. Implanta~ao que julgamos poder atribuir A parte conservada d( o nuc:leo do povoado do Bronze Final cIe S. Juliao ocupa 0 extremo por 5 m cle largura maxima SO do esporao, que se localiza no cume do monte e que se desenvolvc de terra, formada pela sobl no senticIo NE/ SO (Ests. 1I e III). grandes hloeos granitieos. ( A OCIII}(/{'iio do Brollze Filial till Cil<lllia elI'S. iulhio. em Vila Verde 20 I Os limites da pequena acropole correspondem aproximadamente as curvas de nive! de 288 e 290 m. Esta possui uma configura<;i'io eliptica, mcdindo ccrca de 30 m de comprimento por 20 m de largura. A massa de afloramentos rochosos, existente nos extremos noroeste, oeste e sudeste da plataforma, constitui urn limite natural do povoado nesses scctores, bem defendidos pelo escarpado das vertentes. A Norte, Este e Sui foi construida uma linha defensiva, que ajudou a formar 0 pequeno tabu leiro, destacando-o do res to do espori'io, que regista um certo pend~r para NE (Ests. III e IV). As varias sondagens realizadas na plataforma superior, ja fora do recillto fortificado, permitiram-nos identificar alguns achados cedlmicos, relacionaveis com a ocupa<;ao do Bronze Final. No entanto, esses achados ocorrem de forma esporadica, em niveis de aterro, ou misturados com e ceramicas de period os mais recentes da ocupa<;ao do monte, como 0 a caso do corte 4 (Est. II). Apenas na area exterior, contigua fortifica<;i'io (corte 1), foi observada, nas camadas inferiores, uma certa densidade de materiais correlaciol1i:lveis com a ocupa<;ao da acropole, 0 que permite supor uma utiliza<;i'io mais intensa deste sector pelos habitantes do povoado. Todavia, 0 facto de termos apenas registado vestigios de habita<;ao no interior do espa<;o fortificado, sugere-nos que este constituiria a area nuclear do habitat, pelo que a presen<;a de materiais atribuiveis ao Bronze Final, fora do recinto, deve justificar-se mais peia circula<;ao dos seus habitantes, do que por urna ocupa<;ao propriamente dita. 2. Estrutura defensiva A pequena area habitacional do povoado encontra-se dclimitada por lima cstrutura defensiva formada por urn talude de terra e por urn fosso exterior, escavado na arena granitica. As duas estruturas possuem uma configura~ao nitidamente circular, parecendo cinturar a area este e sLldeste do povoado, onde as defesas natLlrais sao inexistentcs (Est. III-I). o talude assenta numa camada esteriI, de terra cinzenta, argilosa, que cobre a arena granitica. A parte superior da camada, que parece corres ponder a urn paleosolo, estava definida pOI' LIm !livel de carvoes e cinzas, que jlllgamos poder atribuir a LIm a qLlcimada, para limpeza da vegeta<;ao. A parte conservada do talude regista cerca de 1,50 m de altura, por 5 m de largura maxima (Est. VI). Corresponde a lima cstrutura maci<;a de terra, formada pela sobreposi<;iio de varias camadas, aliccr<;adas com grandes blocos graniticos, dispostos de forma mais ou menos irregular, 2()2 }VI(/IIlIe/a !\lIar/ills A Gel/paUlO do Bronze mas concentrados na periferia do taludc, junto ao fosso. Aparentemente A area escavada da serviriam, nao s6 para dar maior consistencia a estrutura, mas tambem da estrutura, permite COI1. para evitar 0 escorregamento de terras para 0 fosso. diametro. A parte descobe A parte superior do talude e formada por uma cspessa camada de mitir qualquer estimativa arena, bastante dura, que reveste toda a estrutura, conferindo-Ihe 0 aspeeto Na zona periferica dl! de uma calote (Est. VI). estas e 0 talude, e ao mes o lado interno foi rematado por um murete de pcdras, de talhe e varias camadas de tipo d dimens6es irregulares, encravado nas pr6prias terras do talude (Est. IV-I). ocupac;ao. No lado exterior, a estrutura confina com urn fosso. Este tem uma No corte 3 foram a' seq:ao em U, bastante aberto e regista uma profundidade de cerca de mentos, correspondcntes a . 1,80 m e uma largura maxima de 2,20 m (Est. VO. A abertura do fossa camada de abandono das as cortou a camada csteril, cinzenta, que jil referimos e sobre a qual asscnta excentricos em relac;iio o taludc. reordenamento do espac;o I As duas estrutu.ras devcm ter sido construidas simultaneamente, sendo Os dois pavimentos p provavel que 0 saibro, que comp6e a camada de revestimento do talude, feitos, tal como os anteriore seja originario do desaterro do fosso. antigo que 0 solo A, possu definido por tres pedras e~ Os materiais arqucol6 3. Estruturas habitacionais pavimentos mantem as ml nas camadas anteriores, pe No corte 2 regisHimos apenas vestigios de uma possivel cabana, corres cronol6gico e cultural. a pondente La fase de ocupac;ao ai observada e cia qual apenas foi escavada uma parte pouco significativa. A estrutura aparece dcfinida por um conjunto de pedras, dispostas entre dois grandes afloramentos rochosos existentes no 4. Estratigrafia e fases local, parecendo constituir urn alicerce. Com a estrutura estao relacionados dois solos de argamassa: Al e A2 (Est. VII). Os resultados obtidos No corte 3, aberto no lado interior do povoado, na zona contigua meras sondagens da area re ao talude, fl ram definidos os limites de duas estruturas de habita<;ao, uma sequencia de ocupac;i parcialmente encostadas uma a outra. No entanto, nenhuma delas foi que se restringe ao Bronze] integralmente escavada (Est. IV-1 e 2). num futuro pr6ximo, a fim Correspondem a cstruturas muito simples, limitadas por aros de pedra eOiTecta, bem como uma de talhe muito irregular, assentes na terra. Disp6em-se em arco de circulo vestigios conservados. e devcriam constituir os alicerces de cabanas, feitas com materiais pere A ausencia de materi civeis. Com efeito, as pedras nao chegam a formar qualquer parede, Ferro neste sector do mon parecendo antes indicar um simples suporte, ou limite das construc;6es. mente na sua vertente lest A parte escavada destas estruturas revelou varias pavimenta<;6es, niveis do Bronze Final, p' algumas delas cobrindo restos de niveis de ocupac;ao anteriores. Os solos, no tabuleiro superior, qua par vezes bastante espessos, sao formados por saibro e argila end urecidos, informac;6es de que a re provavelmente por aq:ao do fogo. Alguns deles conservam vestigios de provocado 0 desmantelaml lareiras (Est. V-I e 2). sector. A ()clIf!lI(,fio do Bronze Fillol da ciliinia de S. iulillo, em Villi Verde 203 a A area escavada da cabana 1, embora nao corresponda totalidade Ja cstrutura, permite considcrar que ela nao ultrapassaria os 5 m de diametro. A parte descoberta da cabana 2 e demasiado pequena para per mitir qualquer estimativa da sua dimensao. Na zona periferica das cabanas, sobretudo no espa~o situado entre estas e 0 talude, e ao mesmo nivel dos solos das estrutoras, encontnlffios varias camadas de tipo detritico, que parecem relacionar-se com a sua ocupa~ao. No corte 3 foram ainda identificados vestigios de dois outros pavi mentos, correspondentes a solos de duas outras habita~6es, que assentam na camada de abandono das cabanas 1 e 2. No entanto, estes solos sao excentricos em rela~ao as estruturas anteriores, parecendo indicar urn reordenamento do espa~o habitacional do povoado. Os dois pavimentos possuem tambem lima configura~ao circular e sao feitos, tal como os anteriores, de barro e saibro endurecidos. 0 solo B, mais antigo que 0 solo A, possuia restos de uma lareira e urn buraco de poste, cJdinido por tres pedras encravadas verticalmente no proprio solo. Os materia is arqueologicos relacionados com a ocupa~ao destes dois pavimentos mantem as mesmas caracteristicas dos que foram exumados nas camadas anteriores, pelo que podem ser inseridos no mesmo periodo cronologico e cultural. 4. Estratigrafia e fases de ocupac;:ao Os resultados obtidos na escdva~ao dos cortes 2 e 3, que constituiram mcras sondagens da area residencial do povoado, permitiram-nos estabelecer uma sequencia de ocupa~ao apenas valida para este sector do monte e que se restringe ao Bronze Final. Estas sondagens deverao vir a ser alargadas num futuro proximo, a fim de se obter uma earacteriza~ao do habitat mais correcta, bern como uma leitura rnais fina da distribui~ao espacial dos vestigios conservados. A ausencia de materiais indicadorcs de uma ocupa~ao da Idade do Ferro neste sector do monte, bern testemunhados noutras zonas, nomeada mente na sua vertente leste e que em principio se deveriam sobrepor aos niveis do Bronze Final, podem ser explicados pelas destrui~6es ocorridas no tabuleiro superior, quando foi construida a eapela. Com efeito, temos informa~6es de que 0 recinto foi terraplanado e nivelado, 0 que tera provocado 0 desmantelamento dos niveis de ocupa~ao mais recente deste sector.
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