PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA RRRRReeeeevvvvviiiiissssstttttaaaaa BBBBBrrrrraaaaasssssiiiiillllleeeeeiiiiirrrrraaaaa dddddeeeee IIIIInnnnnttttteeeeellllliiiiigggggêêêêênnnnnccccciiiiiaaaaa ISSN 1809-2632 RRRRREEEEEPPPPPÚÚÚÚÚBBBBBLLLLLIIIIICCCCCAAAAA FFFFFEEEEEDDDDDEEEEERRRRRAAAAATTTTTIIIIIVVVVVAAAAA DDDDDOOOOO BBBBBRRRRRAAAAASSSSSIIIIILLLLL Presidenta Dilma Vana Rousseff GGGGGAAAAABBBBBIIIIINNNNNEEEEETTTTTEEEEE DDDDDEEEEE SSSSSEEEEEGGGGGUUUUURRRRRAAAAANNNNNÇÇÇÇÇAAAAA IIIIINNNNNSSSSSTTTTTIIIIITTTTTUUUUUCCCCCIIIIIOOOOONNNNNAAAAALLLLL Ministro José Elito Carvalho Siqueira AAAAAGGGGGÊÊÊÊÊNNNNNCCCCCIIIIIAAAAA BBBBBRRRRRAAAAASSSSSIIIIILLLLLEEEEEIIIIIRRRRRAAAAA DDDDDEEEEE IIIIINNNNNTTTTTEEEEELLLLLIIIIIGGGGGÊÊÊÊÊNNNNNCCCCCIIIIIAAAAA Diretor-Geral Wilson Roberto Trezza SSSSSEEEEECCCCCRRRRREEEEETTTTTAAAAARRRRRIIIIIAAAAA DDDDDEEEEE PPPPPLLLLLAAAAANNNNNEEEEEJJJJJAAAAAMMMMMEEEEENNNNNTTTTTOOOOO,,,,, OOOOORRRRRÇÇÇÇÇAAAAAMMMMMEEEEENNNNNTTTTTOOOOO EEEEE AAAAADDDDDMMMMMIIIIINNNNNIIIIISSSSSTTTTTRRRRRAAAAAÇÇÇÇÇÃÃÃÃÃOOOOO Secretário Luizoberto Pedroni EEEEESSSSSCCCCCOOOOOLLLLLAAAAA DDDDDEEEEE IIIIINNNNNTTTTTEEEEELLLLLIIIIIGGGGGÊÊÊÊÊNNNNNCCCCCIIIIIAAAAA Diretora Luely Moreira Rodrigues EEEEEdddddiiiiitttttooooorrrrr Eliete Maria Paiva, Ana Beatriz Feijó Rocha Lima CCCCCooooommmmmiiiiissssssssssãããããooooo EEEEEdddddiiiiitttttooooorrrrriiiiiaaaaalllll dddddaaaaa RRRRReeeeevvvvviiiiissssstttttaaaaa BBBBBrrrrraaaaasssssiiiiillllleeeeeiiiiirrrrraaaaa dddddeeeee IIIIInnnnnttttteeeeellllliiiiigggggêêêêênnnnnccccciiiiiaaaaa Ana Beatriz Feijó Rocha Lima; Eliete Paiva; Osvaldo Pinheiro; Olívia Leite Vieira; Saulo Moura da Cunha; Paulo Roberto Moreira; Dimas de Queiroz CCCCCooooolllllaaaaabbbbbooooorrrrraaaaadddddooooorrrrreeeeesssss Ana Maria Bezerra Pina; Roniere Ribeiro do Amaral; Francisco Ari Maia Junior; L. A. Vieira JJJJJooooorrrrrnnnnnaaaaallllliiiiissssstttttaaaaa RRRRReeeeessssspppppooooonnnnnsssssááááávvvvveeeeelllll Osvaldo Pinheiro – MTE 8725 CCCCCaaaaapppppaaaaa Wander Rener de Araujo e Carlos Pereira de Sousa EEEEEdddddiiiiitttttooooorrrrraaaaaçççççãããããooooo GGGGGrrrrráááááfffffiiiiicccccaaaaa Jairo Brito Marques RRRRReeeeevvvvviiiiisssssãããããooooo L. A. Vieira CCCCCaaaaatttttaaaaalllllooooogggggaaaaaçççççãããããooooo bbbbbiiiiibbbbbllllliiiiiooooogggggrrrrráááááfffffiiiiicccccaaaaa iiiiinnnnnttttteeeeerrrrrnnnnnaaaaaccccciiiiiooooonnnnnaaaaalllll,,,,, nnnnnooooorrrrrmmmmmaaaaallllliiiiizzzzzaaaaaçççççãããããooooo eeeee eeeeedddddiiiiitttttooooorrrrraaaaaçççççãããããooooo Coordenação de Biblioteca e Museu da Inteligência - COBIM/CGPCA/ESINT DDDDDiiiiissssspppppooooonnnnnííííívvvvveeeeelllll eeeeemmmmm::::: http://www.abin.gov.br CCCCCooooonnnnntttttaaaaatttttooooosssss::::: SPO Área 5, quadra 1, bloco K Cep: 70610-905 – Brasília/DF Telefone(s): 61-3445.8164 / 61-3445.8433 E-mail: [email protected] Tiragem desta edição: 3.000 exemplares. IIIIImmmmmppppprrrrreeeeessssssssssãããããooooo Gráfica – Abin Os artigos desta publicação são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abin. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta revista, desde que citada a fonte. DDDDDaaaaadddddooooosssss IIIIInnnnnttttteeeeerrrrrnnnnnaaaaaccccciiiiiooooonnnnnaaaaaiiiiisssss dddddeeeee CCCCCaaaaatttttaaaaalllllooooogggggaaaaaçççççãããããooooo nnnnnaaaaa PPPPPuuuuubbbbbllllliiiiicccccaaaaaçççççãããããooooo (((((CCCCCIIIIIPPPPP))))) Revista Brasileira de Inteligência / Agência Brasileira de Inteligência. – n. 6 (abr. 2011) – Brasília : Abin, 2005 - 104p. Semestral ISSN 1809-2632 1. Atividade de Inteligência – Periódicos I. Agência Brasileira de Inteligência. CDU: 355.40(81)(051) SSSSSuuuuummmmmááááárrrrriiiiiooooo 55555 Editorial 77777 A INTELIGÊNCIA NO ESTADO DEMOCRÁTICO: soluções e impasses Beatrice Laura Carnielli; João Manoel Roratto 1111155555 CIBERGUERRA, INTELIGÊNCIA CIBERNÉTICA E SEGURANÇA VIRTUAL: alguns aspectos Emerson Wendt 2222277777 DIREITO APLICADO À ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA: considerações sobre a legalidade da atividade de Inteligência no Brasil Alexandre Lima Ferro 4444411111 CONSIDERAÇÕES SOBRE A NECESSIDADE DE SE RESGUARDAR AO BRASILEIRO NATO OS CARGOS DA CARREIRA DE INTELIGÊNCIA E DE DIRETOR-GERAL DA AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA David Medeiros 4444477777 A REPRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO DE INTELIGÊNCIA Josemária da Silva Patrício 5555555555 ASPECTOS JURÍDICO-HISTÓRICOS DA PATENTE DE INTERESSE DA DEFESA NACIONAL Neisser Oliveira Freitas 7777733333 A OBSERVAÇÃO COMO FONTE DE DADOS PARA A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA João Manoel Roratto 8888811111 SANTA ALIANÇA: o serviço secreto mais secreto da história a serviço de Deus Fábio Pereira Ribeiro 8888877777 Resenha PSICOLOGÍA DEL TERRORISMO: CÓMO E POR QUÉ ALGUIEN SE CONVIERTE EN TERRORISTA Marta Sianes Oliveira de Nascimento 9999933333 Resenha THE DEFENSE OF THE REALM: THE AUTHORIZED HISTORY OF MI5 Romulo Rodrigues Dantas EEEEEdddddiiiiitttttooooorrrrriiiiiaaaaalllll Desde 7 de dezembro de 1999, a Agência Brasileira de Inteligência e o Sistema Brasilei- ro de Inteligência proporcionam aos governantes, mediante atuação compartilhada, um fluxo de informações que possibilita subsidiar as decisões das autoridades no seu mais alto nível. Este trabalho, nesses onze anos de existência da Abin e do Sisbin, vem sendo balizado pelos objetivos e diretrizes propostos pela Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Conselho de Governo e pelo Gabinete de Segurança Institucional. Em 2010, o Comitê Ministerial, criado em 18 de fevereiro de 2009 e integrado pelos Ministros do Gabinete de Segurança Institucional; da Casa Civil; da Defesa; da Justiça; das Relações Exteriores; do Planejamento, Orçamento e Gestão; e pelo Chefe da Secre- taria de Assuntos Estratégicos, finalizou a elaboração de uma proposta de Política Naci- onal de Inteligência, apresentada ao então Presidente da República, e que, brevemente, deverá ser encaminhada para a aprovação da Presidente Dilma Rousseff. Isto significa dizer que, enfim, tem-se uma expectativa real de que ocorra o apontamento das neces- sidades de informações do nosso maior usuário, possibilitando a concretização do fun- cionamento do Sisbin de forma ampla e eficaz. Quando da criação da Abin, o governo preocupou-se em estabelecer as salvaguardas necessárias para garantir o exercício das atividades de Inteligência no País em um contex- to plenamente democrático. O projeto de lei original já estabelecia que as atividades da Agência fossem submetidas a mecanismos de controle e de fiscalização. A Lei nº 9.883 prevê que o Poder Legislativo é diretamente responsável pelo controle externo, por intermédio de comissão mista do Congresso Nacional. A Política Nacional de Inteligência é mais um forte componente de garantia de que as atividades de Inteligência no Brasil desenvolvam-se em total acordo aos princípios cons- titucionais e às leis, na defesa dos interesses da sociedade e do Estado. É nessa conjuntura que está sendo lançado o sexto número da Revista Brasileira de Inteligência, que possibilita além do compartilhamento de conhecimentos sobre te- mas de interesse da Atividade de Inteligência, a criação de um espaço para o debate e a reflexão. Esta edição traz especialmente a produção de autores integrantes de outras instituições, o que denota que o Sisbin está pronto para produzir conhecimentos de Inteligência em prol do melhor, mais relevante e mais oportuno assessoramento governamental. A busca pela otimização do emprego das estruturas e dos recursos de Inteligência existentes no Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, n. 6, abr. 2011 5 País aumenta a capilaridade, a amplitude e a agilidade das ações de obtenção, integração e disseminação de dados e informações essenciais ao processo decisório. Ainda, a eficácia da atuação do Sisbin possibilita aos decisores a visualização multifacetada dos cenários, minimizando a adoção de linhas de ação baseadas em visões segmentadas dos fatos. Três dos artigos tratam exatamente das questões que envolvem a legalidade da atuação da Inteligência e a importância do controle sobre a atividade exercido pelo Estado. Outros dois artigos abordam temas referentes aos procedimentos que compõem a ativi- dade de Inteligência: um sobre a representação do conhecimento de Inteligência e outro sobre a técnica de observação em proveito da Atividade de Inteligência. Assuntos da atualidade e de interesse da Inteligência estão contemplados nos textos sobre ciberguerra; patente de interesse da Defesa Nacional e a história do Serviço Se- creto do Vaticano. E, por fim, duas resenhas nos brindam com conhecimentos preciosos sobre a psicologia na compreensão do fenômeno terrorismo e sobre a recém-lançada história oficial e autorizada do MI5. Tenham uma boa leitura! LLLLLuuuuueeeeelllllyyyyy MMMMMooooorrrrreeeeeiiiiirrrrraaaaa RRRRRooooodddddrrrrriiiiiggggguuuuueeeeesssss DDDDDiiiiirrrrreeeeetttttooooorrrrraaaaa dddddaaaaa EEEEEssssscccccooooolllllaaaaa dddddeeeee IIIIInnnnnttttteeeeellllliiiiigggggêêêêênnnnnccccciiiiiaaaaa/////AAAAAbbbbbiiiiinnnnn 6 Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, n. 6, abr. 2011 AAAAA IIIIINNNNNTTTTTEEEEELLLLLIIIIIGGGGGÊÊÊÊÊNNNNNCCCCCIIIIIAAAAA NNNNNOOOOO EEEEESSSSSTTTTTAAAAADDDDDOOOOO DDDDDEEEEEMMMMMOOOOOCCCCCRRRRRÁÁÁÁÁTTTTTIIIIICCCCCOOOOO::::: sssssooooollllluuuuuçççççõõõõõeeeeesssss eeeee iiiiimmmmmpppppaaaaasssssssssseeeeesssss BBBBBeeeeeaaaaatttttrrrrriiiiiccccceeeee LLLLLaaaaauuuuurrrrraaaaa CCCCCaaaaarrrrrnnnnniiiiieeeeelllllllllliiiii***** JJJJJoooooãããããooooo MMMMMaaaaannnnnoooooeeeeelllll RRRRRooooorrrrraaaaattttttttttooooo********** “[...] a falha em controlar adequadamente as agências de Inteligência pode ter conseqüências muito mais catastróficas para uma nação que a maior parte de outras falhas na política.” Morton Halperin RRRRReeeeesssssuuuuummmmmooooo A atividade de Inteligência, em face de sua construção histórica e pelas suas características, ainda é cercada de certos mistérios. Contemporaneamente, o estado democrático de direito determina que suas estruturas realizem ações transparentes e baseadas na lei, abrangendo, inclusive, as de Inteligência. Assim, o controle das atividades de Inteligência faz parte da agen- da de discussões políticas dos estados. IIIIInnnnntttttrrrrroooooddddduuuuuçççççãããããooooo Um dos grandes desafios enfrentados [...] me atrevo a qualificar de surpreendente pelos governos democráticos é con- na Argentina, que transcorreu dois meses de desempenho do novo governo sem que ciliar a ação eficiente da atividade de Inte- se conheçam denúncias de escutas ligência e sua perfeita adequação às leis. telefônicas ilegais, antigo vício existente A atividade de Inteligência,,,,, entendida na Argentina, nem outros abusos ou como uma atividade de Estado voltada para atividades ilegais correspondentes à área o assessoramento dos dirigentes nacio- de Inteligência. Isso me faz ratificar a nais em temas de relevância nacional e da presunção que sempre existiu a respeito uma estreita vinculação entre atividades conjuntura internacional, nem sempre é en- ilegais de Inteligência e a vontade política tendida como tal pela sociedade. Nas pa- imperante no país [...]. lavras de Ugarte (2000, p.12),,,,, percebe- Por outro lado, a existência de um con- se como a atividade de Inteligência na Ar- trole efetivo sobre a atividade de Inteli- gentina era considerada contrária aos in- gência não apenas se faz sentir, como teresses da sociedade: começa gradativamente a viabilizar-se, por * Doutora em educação pela UFRJ, professora Pós-Graduada em educação da Univesidade Católica de Brasília. **Mestre em Educação pela Universidade Católica de Brasília, instrutor de Inteligência da Esint/Abin. Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, n. 6, abr. 2011 7 Beatriz Laura Carnielli & João Manoel Roratto exigência da difusão da consciência de- OOOOO cccccooooonnnnntttttrrrrrooooollllleeeee dddddaaaaa aaaaatttttiiiiivvvvviiiiidddddaaaaadddddeeeee dddddeeeee mocrática nos diversos países. É de se IIIIInnnnnttttteeeeellllliiiiigggggêêêêênnnnnccccciiiiiaaaaa pppppeeeeelllllaaaaa dddddeeeeemmmmmooooocccccrrrrraaaaaccccciiiiiaaaaa notar, também, que o descaso com o con- trole das atividades sigilosas e a ignorân- Bobbio (1989), ao discorrer sobre o fu- cia por parte da sociedade de como atua turo da democracia, entende que a quinta o serviço de Inteligência de seu país po- promessa não cumprida pela democracia dem trazer prejuízos políticos real em contraste com a democracia ideal é a da eliminação do poder invisível. irreversíveis para o Estado. Nesse senti- do, Halperin (1985), citado por Ugarte Uma das razões da superioridade da de- (2002), observa que: mocracia sobre os estados absolutos, que tinham valorizado os arcana imperii e de- As atividades exercidas pelas agências de fendiam com argumentos históricos e po- Inteligência e as normas de uma sociedade líticos a necessidade de fazer com que as aberta representam o mais notável dos grandes decisões políticas fossem toma- dilemas aparentes de um governo das nos gabinetes secretos, longe dos democrático. As agências de Inteligência, olhares indiscretos do público, baseia-se por sua natureza, funcionam em segredo sem estar sujeitas às regras normais do na convicção de que o governo democrá- Estado. Por outro lado, para a sociedade tico poderia finalmente dar vida à transpa- aberta aborrece o segredo e ela insiste em rência do poder, ao ‘poder sem máscara’. que todas as agências governamentais sejam plenamente responsáveis ante a lei. Bobbio busca inspiração em Kant, que A necessidade de um adequado balanço enunciou, no Apêndice à Paz Perpétua, o entre esses aspectos deriva princípio fundamental segundo o qual “to- fundamentalmente do fato de que a falha das as ações relativas ao direito de outros em controlar adequadamente as agências homens cuja máxima não é suscetível de de Inteligência pode ter conseqüências muito mais catastróficas para uma nação que se tornar pública são injustas”, pois se al- a maior parte de outras falhas na política. guém é forçado a manter secreta uma ação, essa é certamente não apenas uma ação Portanto, as discussões sobre o controle injusta, mas, sobretudo uma ação que se das atividades de Inteligência que ocor- fosse tornada pública suscitaria uma rea- rem nas sociedades democráticas nos úl- ção tão grande que tornaria impossível a timos tempos passaram a fazer parte da sua execução. agenda política dos países, sejam eles de tradição democrática ou dos novos paí- Assim, para que haja transparência das ses que adotaram recentemente esse sis- ações do Estado, tema de governo. Mesmo assim, existem dificuldades em estabelecer os poderes e [...] a exigência de publicidade dos atos de as limitações dos serviços de Inteligência governo é importante não apenas para compatíveis com o estado democrático. permitir ao cidadão conhecer os atos de A resposta, a priori, para esta questão deve quem detém o poder e assim controlá-los, mas também porque a publicidade é por si estar no Estado de Direito. Nem por isso mesma uma forma de controle, um torna-se uma solução fácil, mas é o cami- expediente que permite distinguir o que é nho a ser construído. lícito do que não é. Não por acaso, a política 8 Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, n. 6, abr. 2011 A Inteligência no Estado Democrático: soluções e impasses dos arcana imperii caminhou [...] nas de democracias ‘antigas’ (América simultaneamente com as teorias da Razão do Norte, Europa Ocidental, Austrália e do Estado; teorias segundo as quais é lícito Nova Zelândia), o maior incentivo para a ao Estado o que não é lícito aos cidadãos mudança na forma de atuação das agências privados, ficando o Estado obrigado a agir foram os escândalos envolvendo abusos de em segredo para não provocar escândalos. poder e violação dos direitos individuais por (BOBBIO, 1989, p. 28). parte dos organismos de Inteligência. Os Na época atual, com o surgimento de todo casos mais conhecidos são a comissão o aparato tecnológico, diz Bobbio (1989) parlamentar de inquérito do Congresso dos Estados Unidos da América no período de “são praticamente ilimitados os instrumen- 1975/1976 (tendo como presidente o tos técnicos de que dispõem os detento- Senador Church e o Deputado Pike), o res do poder para conhecer capilarmente inquérito judicial do Juiz McDonald sobre tudo o que fazem os cidadãos” e que hoje o serviço de segurança RCMP no Canadá o mais democrático dos governos pode (1977/1981) e o inquérito judicial do Juiz obter, com o uso da tecnologia, mais in- Hope sobre a Organização Australiana de Inteligência de Segurança (1976/1977, formações sobre as pessoas que nenhum 1984/1985). déspota da antiguidade, nenhum monarca absoluto que apesar de cercado de mil Nos demais países, a mudança tem se re- espiões, jamais conseguiu obter sobre vestido de um aspecto crítico,,,,, às vezes seus súditos. doloroso, característico da democratiza- ção de regimes anteriormente autoritári- Esta situação se remete ao dilema clássico os, tanto civis como militares. que já desafiava os romanos no passado ‘quis custodiet ipsos custodes’ – ‘quem King (2003) enumera três etapas para re- vigia os encarregados da vigilância’, ou dita formar os aparatos de Inteligência após de outra forma conforme Bobbio: ‘Quem um período autoritário, entre elas, a do controla os controladores?’. Para Bobbio, controle do poder legislativo. se não se conseguir encontrar uma res- posta adequada para esta pergunta, a de- Em primeiro lugar, recomenda-se que se mocracia, como advento do governo visí- faça uma dispensa massiva dos funcionários vel, está perdida. “Mais do que uma pro- ligados ao passado. Países como a Estônia, messa não cumprida, estaríamos diante de a República Checa e a Alemanha reuniicada despediram todo ou quase todo pessoal de uma tendência contrária às premissas: a Inteligência de uma vez. Como segunda tendência não ao máximo de controle do medida, recomenda-se a criação de novas poder por parte dos cidadãos, mas o doutrinas e como terceira, se requer uma máximo controle dos súditos por parte do clareza legislativa para a atividade de poder”. (BOBBIO, 1989, p. 31). Inteligência. Com instrumentos reservados, porém confiáveis, o Congresso deve São duas as razões principais que levaram assegurar o controle das agências, tanto no às discussões sobre o controle da atividade seu orçamento como nos seus planos gerais. É imperativo também que o Poder de Inteligência, do poder invisível na Judiciário tenha ingerência nos assuntos conceituação de Bobbio. Nos países com estritamente operativos, em que seja tradição democrática, elas também se fazem necessário suspender os direitos de necessárias. Na visão de Gill (2003, p. 55), privacidade dos cidadãos. Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, n. 6, abr. 2011 9 Beatriz Laura Carnielli & João Manoel Roratto Assim, quer o primeiro impulso para a fiscalização, podem, de alguma forma, ser mudança tenha sido dado pelo escândalo mais eficientes e eficazes”. (GILL, 2003, ou pela democratização de regimes auto- p. 57). Para o futuro, complementa, o ritários, às vezes por ambos, “a maior objetivo deve ser evitar uma alternância ênfase das reformas têm sido no aumento entre dois pólos: da eficácia e da corre- da legalidade e correção das operações ção. Ao contrário, a meta dos estados de Inteligência, cujas atividades passadas democráticos deverá ser assegurar servi- ços de Inteligência que sejam, ao mesmo haviam sido dominadas mais pela vigilân- tempo, eficazes e capazes de operar den- cia de opositores políticos do que por tro dos limites da lei e da ética. ameaças genuínas à segurança”. (GILL, 2003, p. 57). Ugarte (2003, p. 99) afirma que a Inteli- gência “envolve o uso do segredo de fon- LLLLLeeeeegggggaaaaallllliiiiidddddaaaaadddddeeeee eeeee eeeeefffffiiiiicccccáááááccccciiiiiaaaaa tes e métodos, a realização de fatos de caráter sigiloso, e, inclusive a utilização de A partir de 11 de setembro de 2001, fundos que, embora não isentos de con- quando os EUA decretaram a guerra trole, estão sujeitos a um regime especial contra o terrorismo, o sistema global que limita a demonstração de sua forma democrático sofreu alterações, levando a de emprego”. Por isso, ele entende que perdas do ponto de vista da aplicação dos a atividade de Inteligência direitos individuais e coletivos, compro- metendo avanços democráticos. Adveio [...] não é uma atividade habitual do Estado desta nova realidade uma flexibilização na Democrático; ela é uma atividade aplicação dos direitos e com isso um excepcional do referido Estado, reservada retrocesso que enseja o debate tanto no para atuação no exterior, nas questões mais âmbito interno daquele país quanto no da importantes das políticas exterior, ordem internacional. econômica e de defesa e, para atuação no interior do país, nos assuntos estritamente ............... aaaaa mmmmmeeeeetttttaaaaa dddddooooosssss eeeeessssstttttaaaaadddddooooosssss voltados para identificar as ameaças suscetíveis de destruir o Estado e o sistema dddddeeeeemmmmmooooocccccrrrrrááááátttttiiiiicccccooooosssss dddddeeeeevvvvveeeeerrrrrááááá ssssseeeeerrrrr democrático. aaaaasssssssssseeeeeggggguuuuurrrrraaaaarrrrr ssssseeeeerrrrrvvvvviiiiiçççççooooosssss dddddeeeee Como a Inteligência é considerada uma IIIIInnnnnttttteeeeellllliiiiigggggêêêêênnnnnccccciiiiiaaaaa qqqqquuuuueeeee ssssseeeeejjjjjaaaaammmmm,,,,, atividade que faz parte da estrutura ad- aaaaaooooo mmmmmeeeeesssssmmmmmooooo ttttteeeeemmmmmpppppooooo,,,,, ministrativa e política do Estado, pergun- eeeeefffffiiiiicccccaaaaazzzzzeeeeesssss eeeee cccccaaaaapppppaaaaazzzzzeeeeesssss dddddeeeee ta-se, com frequência, por que é neces- ooooopppppeeeeerrrrraaaaarrrrr dddddeeeeennnnntttttrrrrrooooo dddddooooosssss llllliiiiimmmmmiiiiittttteeeeesssss sário controlar a atividade de Inteligên- cia. A resposta a esta questão está no dddddaaaaa llllleeeeeiiiii eeeee dddddaaaaa ééééétttttiiiiicccccaaaaa fato de que nenhuma atividade estatal pode fugir ao controle público para as- Assim, “os ganhos democráticos dos úl- segurar que ela seja efetuada com legiti- timos 30 anos podem se perder por causa da crença ingênua de que as agências de midade, por um lado, e com economia, Inteligência, ‘libertas’ de exigência de eficiência e eficácia, por outro. 10 Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, n. 6, abr. 2011
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