UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL PROJETO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO AMÉRICO CAMPOS FILHO 2014 SUMÁRIO 1 – Dimensões ............................................................................................................................ 1 1.1 – Dimensões mínimas das seções transversais dos pilares .................................................. 1 1.2 – Cobrimento da armadura dos pilares ................................................................................ 1 2 – Cálculo das solicitações nos pilares ..................................................................................... 4 2.1 - Estruturas de nós fixos e estruturas de nós moveis ........................................................... 4 2.2 – Contraventamento ............................................................................................................. 5 2.3 – Imperfeições geométricas ................................................................................................. 5 2.4 - Elementos isolados ............................................................................................................ 8 2.5 - Dispensa da consideração dos esforços globais de 2ª ordem ............................................ 8 2.5.1 - Parâmetro de instabilidade ............................................................................................. 8 2.5.2 - Coeficiente .................................................................................................................. 8 z 2.6 - Análise de estruturas de nós fixos ..................................................................................... 9 2.7 – Processo simplificado para o cálculo das solicitações nas estruturas usuais de edifícios 10 3 - Análise de elementos isolados .............................................................................................. 12 3.1 – Generalidades ................................................................................................... 12 3.2 - Dispensa da análise dos efeitos locais de 2ª ordem ........................................................... 12 3.3 - Determinação dos efeitos locais de 2ª ordem .................................................................... 13 3.3.1 - Barras submetidas a flexo-compressão .......................................................................... 13 3.3.2 - Método exato .................................................................................................................. 13 3.3.3 - Métodos aproximados .................................................................................................... 13 3.3.3.1 - Método do pilar padrão com curvatura aproximada .................................................... 13 3.3.3.2 - Método do pilar padrão com rigidez aproximada .................................................... 14 3.3.3.3 - Método do pilar padrão acoplado a diagramas M, N, 1/r ............................................ 14 3.3.3.4 - Método do pilar padrão para pilares da seção retangular, submetidos à flexão composta oblíqua ....................................................................................................................... 14 3.3.3.5 – Resumo das exigências da NBR6118:2014 para verificação de pilares esbeltos ....... 15 4 – Dimensionamento das seções à flexão composta oblíqua ................................................... 15 5 – Recomendações relativas ao detalhamento dos pilares ....................................................... 16 5.1 - Proteção contra flambagem das barras .............................................................................. 16 5.2 – Disposições gerais relativas às armaduras dos pilares ...................................................... 17 5.2.1 – Introdução ...................................................................................................................... 17 5.2.2 - Armaduras longitudinais ................................................................................................ 17 5.2.2.1 - Diâmetro mínimo e taxa de armadura ......................................................................... 17 5.2.2.2 - Distribuição transversal ............................................................................................... 18 5.2.2.3 – Comprimento de espera .............................................................................................. 18 5.2.3 - Armaduras transversais .................................................................................................. 19 5.2.4 – Detalhamento dos pilares .............................................................................................. 19 6 – Exemplos ............................................................................................................................. 21 Anexo – Aço destinado a armaduras para estruturas de concreto armado (NBR7480:2007) ... 34 1 – Dimensões Os pilares dos edifícios correntes, com estrutura em concreto armado, têm, em geral, seções transversais constantes de piso a piso (concreto e aço). As seções transversais podem apresentar a forma quadrada, retangular, circular ou de uma figura composta por retângulos (seções L, T, U). 1.1 – Dimensões mínimas das seções transversais dos pilares As dimensões mínimas da seção transversal de pilares são fixadas no item 13.2.3 da NBR6118:2014. Conforme este item, a seção transversal de pilares não deve apresentar dimensão menor que 19 cm. Em casos especiais, permite-se a consideração de dimensões entre 19 cm e 14 cm, desde que se multipliquem as ações a serem consideradas no dimensionamento por um coeficiente adicional , de acordo com o indicado na tabela abaixo. Em qualquer caso, a n norma não permite pilar com seção transversal de área inferior a 360 cm2. Tabela – Valores do coeficiente adicional n b (cm) 19 18 17 16 15 14 1,00 1,05 1,10 1,15 1,20 1,25 n Nesta tabela, b é a menor dimensão da seção transversal do pilar e = 1,95 – 0,05 b é n um coeficiente que deve majorar os esforços solicitantes finais de cálculo nos pilares, quando do dimensionamento. 1.2 – Cobrimento da armadura dos pilares Segundo o item 6 da NBR6118:2014 (diretrizes para durabilidade das estruturas de concreto), as estruturas de concreto devem ser projetadas e construídas de modo que, sob as condições ambientais previstas na época do projeto e quando utilizadas conforme preconizado em projeto, conservem suas segurança, estabilidade e aptidão em serviço durante o prazo correspondente à sua vida útil. A agressividade do meio ambiente está relacionada às ações físicas e químicas que atuam sobre as estruturas de concreto, independentemente das ações mecânicas, das variações volumétricas de origem térmica, da retração hidráulica e outras previstas no dimensionamento das estruturas de concreto. Departamento de Engenharia Civil – Universidade Federal do Rio Grande do Sul 1 Nos projetos das estruturas correntes, a agressividade ambiental pode ser classificada de acordo com o apresentado na seguinte tabela e pode ser avaliada, simplificadamente, segundo as condições de exposição da estrutura ou de suas partes. Tabela - Classes de agressividade ambiental Classe de Agressividade Classificação geral do tipo de Risco de agressividade ambiente para efeito de projeto deterioração da ambiental (CAA) estrutura I Fraca Rural Insignificante Submersa II Moderada Urbana1), 2) Pequeno III Forte Marinha1) Grande Industrial1), 2) IV Muito forte Industrial1), 3) Elevado Respingos de maré 1) Pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de serviço de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura). 2) Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) em: obras em regiões de clima seco, com umidade relativa do ar menor ou igual a 65%, partes da estrutura protegidas de chuva em ambientes predominantemente secos, ou regiões onde chove raramente. 3) Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias químicas. No item 7 da NBR6118:2014, são apresentados os critérios de projeto visando a durabilidade das estruturas de concreto. No item 7.4, são referenciados os critérios relativos à qualidade do concreto e cobrimento da armadura. A durabilidade das estruturas é altamente dependente das características do concreto e da espessura e qualidade do concreto do cobrimento da armadura. Ensaios comprobatórios de desempenho da durabilidade da estrutura frente ao tipo e nível de agressividade previsto em projeto devem estabelecer os parâmetros mínimos a serem atendidos. Na falta destes e devido à existência de uma forte correspondência entre a relação água/cimento ou água/aglomerante, a resistência à compressão do concreto e sua durabilidade, permite-se adotar os requisitos mínimos expressos na tabela seguinte. Departamento de Engenharia Civil – Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2 Tabela - Correspondência entre classe de agressividade e qualidade do concreto Concreto Tipo Classe de agressividade (tabela 1) I II III IV Relação CA 0,65 0,60 0,55 0,45 água/aglomerante em massa CP 0,60 0,55 0,50 0,45 Classe de CA C20 C25 C30 C40 concreto (NBR 8953) CP C25 C30 C35 C40 NOTAS: CA - Componentes e elementos estruturais de concreto armado CP - Componentes e elementos estruturais de concreto protendido O cobrimento mínimo da armadura é o menor valor que deve ser respeitado ao longo de todo o elemento considerado e que se constitui num critério de aceitação. Para garantir o cobrimento mínimo (c ) o projeto e a execução devem considerar o cobrimento nominal min (c ), que é o cobrimento mínimo acrescido da tolerância de execução (c). Assim as nom dimensões das armaduras e os espaçadores devem respeitar os cobrimentos nominais, estabelecidos na tabela abaixo para c=10 mm. Nas obras correntes o valor de c deve ser maior ou igual a 10 mm. Quando houver um adequado controle de qualidade e rígidos limites de tolerância da variabilidade das medidas durante a execução pode ser adotado o valor c = 5 mm, mas a exigência de controle rigoroso deve ser explicitada nos desenhos de projeto. Os cobrimentos nominais e mínimos estão sempre referidos à superfície da armadura externa, em geral à face externa do estribo. O cobrimento nominal de uma determinada barra deve sempre ser maior ou igual ao seu próprio diâmetro. c barra nom A dimensão máxima característica do agregado graúdo, utilizado no concreto não pode superar em 20% a espessura nominal do cobrimento, ou seja: d 1,2 c max nom Departamento de Engenharia Civil – Universidade Federal do Rio Grande do Sul 3 Tabela- Correspondência entre classe de agressividade ambiental e cobrimento nominal para c=10mm Classe de agressividade ambiental Tipo de estrutura Componente ou I II III IV3) elemento Cobrimento nominal mm Laje2) 20 25 35 45 Viga/Pilar 25 30 40 50 Concreto armado Elementos estruturais em 30 40 50 contato com o solo 4) Laje 25 30 40 50 Concreto protendido1) Viga/Pilar 30 35 45 55 1) Cobrimento nominal da bainha ou dos fios, cabos e cordoalhas. O cobrimento da armadura passiva deve respeitar os cobrimentos para concreto armado. 2) Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com revestimentos finais secos tipo carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento tais como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos, pisos asfálticos, e outros tantos, as exigências desta tabela podem ser substituídas pelo item 7.4.7.5 respeitado um cobrimento nominal 15 mm. 3) Nas faces inferiores de lajes e vigas de reservatórios, estações de tratamento de água e esgoto, condutos de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes química e intensamente agressivos a armadura deve ter cobrimento nominal 45mm. 4) No trecho dos pilares em contato com o solo junto aos elementos de fundação, a armadura deve ter cobrimento nominal ≥ 45 mm. 2 – Cálculo das solicitações nos pilares Conforme o item 15.4 da NBR6118:2014, sob a ação das cargas verticais e horizontais, os nós da estrutura de um edifício deslocam-se horizontalmente. Os esforços de segunda ordem decorrentes desses deslocamentos são chamados efeitos globais de 2ª ordem. Nas barras da estrutura, como um lance de pilar, os respectivos eixos não se mantêm retilíneos, surgindo aí efeitos locais de 2ª ordem que, em princípio, afetam principalmente os esforços solicitantes ao longo delas. 2.1 - Estruturas de nós fixos e estruturas de nós moveis As estruturas são consideradas, para efeito de cálculo, como de nós fixos, quando os deslocamentos horizontais dos nós são pequenos, e, por decorrência, os efeitos globais de 2ª ordem são desprezáveis (inferiores a 10% dos respectivos esforços de 1ª ordem). Nessas estruturas, basta considerar os efeitos locais de 2ª ordem. As estruturas de nós móveis são aquelas onde os deslocamentos horizontais não são pequenos e, em decorrência, os efeitos globais de 2ª ordem são importantes (superiores a 10% dos respectivos esforços de 1ª ordem). Nessas estruturas devem ser considerados tanto os esforços de 2ª ordem globais como os locais. Departamento de Engenharia Civil – Universidade Federal do Rio Grande do Sul 4 2.2 - Contraventamento Por conveniência de análise, é possível identificar, dentro da estrutura, subestruturas que, devido à sua grande rigidez a ações horizontais, resistem à maior parte dos esforços decorrentes dessas ações. Essas subestruturas são chamadas subestruturas de contraventamento. Os elementos que não participam da subestrutura de contraventamento são chamados elementos contraventados. As subestruturas de contraventamento podem ser de nós fixos ou de nós moveis. 2.3 – Imperfeições geométricas Segundo o item 11.3.3.4 da NBR6118:2014, na verificação do estado limite último das estruturas reticuladas, devem ser consideradas as imperfeições geométricas do eixo dos elementos estruturais da estrutura descarregada. Essas imperfeições podem ser divididas em dois grupos: imperfeições globais e imperfeições locais. a) Imperfeições globais Na análise global dessas estruturas, sejam elas contraventadas ou não, deve ser considerado um desaprumo dos elementos verticais conforme mostra a figura abaixo. Figura - Imperfeições geométricas globais sendo: = 1/300 para estruturas reticuladas e imperfeições locais; 1min 1/200. 1máx A sobreposição de vento e desaprumo não é necessária quando o menor valor entre eles não ultrapassar 30% do maior valor. Essa comparação pode ser feita com os momentos totais na base da construção e em cada direção e sentido da aplicação da ação do vento. Nesta comparação, deve-se considerar o desaprumo correspondente a θ , não se considerando θ . 1 1mín Quando a superposição for necessária, deve-se combinar com o vento o desaprumo correspondente a θ , não se considerando θ . Se o efeito de desaprumo for predominante, o 1 1mín valor do ângulo deve atender θ . Nessa combinação, admite-se considerar ambas as ações 1mín atuando na mesma direção e sentido como equivalentes a uma ação de vento, portanto como carga variável, artificialmente amplificada para cobrir a superposição. Departamento de Engenharia Civil – Universidade Federal do Rio Grande do Sul 5 b) Imperfeições locais No caso de elementos que ligam pilares contraventados a pilares de contraventamento, usualmente vigas e lajes, deve ser considerada a tração decorrente do desaprumo do pilar contraventado (figura a). No caso da verificação de um lance de pilar, deve ser considerado o efeito do desaprumo ou da falta de retilineidade do eixo do pilar (figuras b e c, respectivamente). Figura - Imperfeições geométricas locais Admite-se que, nos casos usuais, a consideração apenas da falta de retilineidade ao longo do lance de pilar seja suficiente. c) Momento mínimo O momento total M de primeira ordem, isto é, o momento de primeira ordem acrescido 1d,mín dos efeitos das imperfeições locais, deve respeitar o valor mínimo dado por: M = N (0,015 + 0,03h) 1d,mín d onde: h é a altura total da seção transversal na direção considerada, em metros. Nas estruturas reticuladas usuais admite-se que o efeito das imperfeições locais esteja atendido se for respeitado esse valor de momento total mínimo. A este momento devem ser acrescidos os momentos de segunda ordem. Para pilares de seção retangular, pode-se definir uma envoltória mínima de 1ª ordem, tomada a favor da segurança, de acordo com a figura abaixo. Departamento de Engenharia Civil – Universidade Federal do Rio Grande do Sul 6 Figura – Envoltória mínima de primeira ordem Neste caso, a verificação do momento mínimo pode ser considerada atendida quando, no dimensionamento adotado, obtém-se uma envoltória resistente que englobe a envoltória mínima de primeira ordem. Quando houver a necessidade de calcular os efeitos locais de 2ª ordem em alguma das direções do pilar, a verificação do momento mínimo deve considerar ainda a envoltória mínima com 2ª ordem. Para pilares de seção retangular, quando houver a necessidade de calcular os efeitos locais de 2ª ordem, a verificação do momento mínimo pode ser considerada atendida quando, no dimensionamento adotado, obtém-se uma envoltória resistente que englobe a envoltória mínima com 2ª ordem, cujos momentos totais são calculados a partir dos momentos mínimos de 1ª ordem. A consideração desta envoltória mínima pode ser realizada através de duas análises à flexão composta normal, calculadas de forma isolada e com momentos fletores mínimos de 1ª ordem atuantes nos extremos do pilar, nas suas direções principais. Figura - Envoltória mínima com 2ª ordem Departamento de Engenharia Civil – Universidade Federal do Rio Grande do Sul 7 2.4 - Elementos isolados São considerados elementos isolados (item 15.4.4 – NBR6118:2014), os seguintes: a) os elementos estruturais isostáticos; b) os elementos contraventados; c) os elementos das estruturas de contraventamento de nós fixos; d) os elementos das subestruturas de contraventamento de nós moveis desde que, aos esforços nas extremidades, obtidos numa análise de 1ª ordem, sejam acrescentados os determinados por análise global de 2ª ordem. 2.5 - Dispensa da consideração dos esforços globais de 2ª ordem Os processos aproximados, apresentados a seguir, podem ser utilizados para verificar a possibilidade de dispensa da consideração dos esforços globais de 2ª ordem, ou seja, para indicar se a estrutura pode ser classificada como de nós fixos, sem necessidade de cálculo rigoroso. 2.5.1 - Parâmetro de instabilidade Uma estrutura reticulada simétrica pode ser considerada como sendo de nós fixos se seu parâmetro de instabilidade for menor que o valor conforme a expressão: 1 H N /(E I ) tot k csc sendo: =0,2+ 0,1n se: n 3 1 =0,6 se: n 4 1 onde: n é o número de andares acima da fundação ou de um nível pouco deslocável do subsolo; H é a altura total da estrutura, medida a partir do topo da fundação ou de um nível pouco tot deslocável do subsolo; N é a somatória de todas as cargas verticais atuantes na estrutura (a partir do nível k considerado para o cálculo de H ), com seu valor característico; tot E I representa a somatória dos valores de rigidez de todos os pilares na direção cs c considerada; o valor de I deve ser calculado considerando as seções brutas dos pilares. c 2.5.2 - Coeficiente z O coeficiente de avaliação da importância dos esforços de segunda ordem global é z válido para estruturas reticuladas de no mínimo quatro andares. Ele pode ser determinado a partir dos resultados de uma análise linear de primeira ordem. O valor de para cada combinação de carregamento é dado pela expressão: z Departamento de Engenharia Civil – Universidade Federal do Rio Grande do Sul 8
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