\ ' .. NOTA AZUL Freud, Lacan e a Arte \ \. J ' Alain Weill '. Didier~ ' I \ ' ' ) / ' \ ISBN 85-86011-04-5 L. '' 7 Como compreender, hoje, o sentido do ato artfstico O que a prática do senão como a tentativa NOTA AZUL psicanalista não cessa de humana de lutar contra a lembrar é que a mes ameaça de um saber que tiçagem de substâncias tão nos olha de todos os lados, heterogêneas quanto o são dos satélites à televisão, que a materialidade do corpo, a nos ouve de todas as partes, imagem do corpo e o verbo suas estatísticas e pesquisas enxertado neste corpo de opinião, e que instrui institui entre corpo, nossos corpos, múltiplos imaginário e palavra uma regimes e academias de nodulação cujo caráter ~stica? Neste sentido, a problemático traduz-se por criação artfstica preservaria este sofrimento que se aquilo que constitui o mais chama sintoma. íntimo do sujeito: o enigma. A partir deste ensina: Em Nota Azul estão mento quotidiano con rewúdos diferentes mo cedido ao psicanalista, m~ntos de seu trabalho Alain Diclier-Weill teórico: desde uma de.s uas interroga as relações intervenções nó Seminário existentes entre a,arte e a de Jacques Lacan até um. psicanálise, trazendo em· artigo inéditÓs obre a <!e sua reflexão as incidên concepção sublimação cias do ensino de Lacan ea\ Freud. Além disso, sobre a função do real publicamos a tradução de na estruturação do L' Artysp (Paris, 19%), psiquismo humano. manifesto dirigido a artistas Como podemos, então, e psicanalistas , escrito. por assumir o reconheci Alain Didier-Weill com mento de que não somos outros dois psicanalis~, senhores da palavra, mas Chawki Azouri e Claude de que somos instituidos Rabant, assim como a Marro pelo que dizemos? contribuição de Antonio Coutinho Jorge sobre o poder da palavra e a obra de Oarice Lispector. Como compreender, hoje, o sentido do ato artfstico O que a prática do senão como a tentativa NOTA AZUL psicanalista não cessa de humana de lutar contra a lembrar é que a mes ameaça de um saber que tiçagem de substâncias tão nos olha de todos os lados, heterogêneas quanto o são dos satélites à televisão, que a materialidade do corpo, a nos ouve de todas as partes, imagem do corpo e o verbo suas estatísticas e pesquisas enxertado neste corpo de opinião, e que instrui institui entre corpo, nossos corpos, múltiplos imaginário e palavra uma regimes e academias de nodulação cujo caráter ~stica? Neste sentido, a problemático traduz-se por criação artfstica preservaria este sofrimento que se aquilo que constitui o mais chama sintoma. íntimo do sujeito: o enigma. A partir deste ensina: Em Nota Azul estão mento quotidiano con rewúdos diferentes mo cedido ao psicanalista, m~ntos de seu trabalho Alain Diclier-Weill teórico: desde uma de.s uas interroga as relações intervenções nó Seminário existentes entre a,arte e a de Jacques Lacan até um. psicanálise, trazendo em· artigo inéditÓs obre a <!e sua reflexão as incidên concepção sublimação cias do ensino de Lacan ea\ Freud. Além disso, sobre a função do real publicamos a tradução de na estruturação do L' Artysp (Paris, 19%), psiquismo humano. manifesto dirigido a artistas Como podemos, então, e psicanalistas , escrito. por assumir o reconheci Alain Didier-Weill com mento de que não somos outros dois psicanalis~, senhores da palavra, mas Chawki Azouri e Claude de que somos instituidos Rabant, assim como a Marro pelo que dizemos? contribuição de Antonio Coutinho Jorge sobre o poder da palavra e a obra de Oarice Lispector. NOTA AZUL Freud , Lacan e a Arte Alain Didier-Weill com a colaboração de : Chawki Azouri Ctaude Rabant Marco Antonio Coutinho Jorge lt reimpressão TRADUÇÃO Cristina Lacerda (parte I) Marcelo Jacques de Moraes (parte 11) t:sta edição contou com o apoio de: ª P~S MIL EU M l:rDA I ; \I o [ <=-oott- Copyright © 1976, 1977, .1996, 1997 Alain Didier-Weill Copyright ©1996 Chawki Azouri Copyright ©1996 Claude Rabant SUMÁRIO Copyright ©1997 Marco Antonio Coutinho Jorge Parte I Tradução Cristina Lacerda M.ilTcelo Jacques de Moraes Alain Didier-Weill Preliminar a uma revisão da concepção de sublimação em Freud 7 Revisão Técnica Marco Antonio Coutinho forge 1' artysp Projeto Gráfico e Preparação Cmrtra Capa Alain Didier•Welll O artista e o psicanalista questionados um pelo outro 19 ISBN Chawki Azouri 85-8601 1-04-5 Testemunhos de um encontro com o vazio 37 Claude Rabant O vazio, o enigma 47 1997 Parte n Todos os direitos desta edição reservados à Contra Capa Livraria Ltda. <[email protected]. br> Alain Didier-Weill Rua Barata Ribeiro, 370 - Loja 208 A Nota Azul: de quatro tempos subjetivantes 57 na música 22040-000 -Rio de janeiro - RJ Te! (55 21) 236-1999 O circuito pulsional 85 Fax (55 21) 256-0526 Marco Antonio Coutinho Jorge 105 Clarice Lispector e o poder da palavra Copyright © 1976, 1977, .1996, 1997 Alain Didier-Weill Copyright ©1996 Chawki Azouri Copyright ©1996 Claude Rabant SUMÁRIO Copyright ©1997 Marco Antonio Coutinho Jorge Parte I Tradução Cristina Lacerda M.ilTcelo Jacques de Moraes Alain Didier-Weill Preliminar a uma revisão da concepção de sublimação em Freud 7 Revisão Técnica Marco Antonio Coutinho forge 1' artysp Projeto Gráfico e Preparação Cmrtra Capa Alain Didier•Welll O artista e o psicanalista questionados um pelo outro 19 ISBN Chawki Azouri 85-8601 1-04-5 Testemunhos de um encontro com o vazio 37 Claude Rabant O vazio, o enigma 47 1997 Parte n Todos os direitos desta edição reservados à Contra Capa Livraria Ltda. <[email protected]. br> Alain Didier-Weill Rua Barata Ribeiro, 370 - Loja 208 A Nota Azul: de quatro tempos subjetivantes 57 na música 22040-000 -Rio de janeiro - RJ Te! (55 21) 236-1999 O circuito pulsional 85 Fax (55 21) 256-0526 Marco Antonio Coutinho Jorge 105 Clarice Lispector e o poder da palavra PRELIMINAR A UMA REVISÃO DA CONCEPÇÃO DE SUBLIMAÇÃO EM FREUD Alain Didier-Weill FREUD E O ARTlST A Dar continuidade a uma reflexão sobre a sublimação requer que, preliminarmente, lo calizemos os pontos que, na elaboração de Freud, possam ter sido obstáculos a seu pró prio avanço sobre a questão. 1º) O artista é um introvertido. Comece mos por esta citação extraída de Introduction q la psychanalyse: "O artista é um introvertido que beira a neurose. Animado por impulsos e ten dências extremamente fortes, ele quer conquis- 7 PRELIMINAR A UMA REVISÃO DA CONCEPÇÃO ALAIN OIDIER-WEILL tar honra, poder, riqueza e o amor das mulheres. Esta concepção está, para ele, ligada ao fato Mas faltam-lhe os meios de providenciar para si de que o princípio de prazer~ como objetivo tais satisfações. E por isso, como todo homem in da vida, não pode proporcionar, por causa da satisfeito, ele dá as costas para a realidade e con cultura, uma felicidade duradoura, pois não centra todo seu interesse, e também sua hbido, nos consegue senão momentos fugidios de satisfa desejos criados por sua vida imaginativa (. ..) "1 ção relacionados a uma descarga de tensões. • Interrompo essa citação, cujo aspecto Observamos quanto a isso que Freud, ao reducionista é patente, para observar que fazer do princípio de prazer objetivo da vida Freud deixa de considerar a questão do belo. (Malaise dans la civilisation, 1928), deixa de Ele se interessa pela intenção do artista sem lado o que havia dito, oito anos antes, sobre a se deixar questionar pelo produto artístico pulsão de morte como objetivo da vida. como tal, que existe independentemente dos 3º) Freud pensa o artista sob um ponto de aspectos psicobiográficos do criador. vista eterno, sem o situar como intérprete con Eis por que Freud não se pergunta o que é creto e singular de seu tempo. o sublime, mas apenas o que é a sublimação. 4°) Freud interpreta a narcose facultada pela 212 A arte como sedativo. Em numerosas arte romo ligada a forças imaginativas do artista. ) passagens, Freud trata a arte como um seda Nisso ele está defasado em relação aos artistas de · tivo, como um ópio, como uma consolação, seu tempo, que, desde Kant, estavam preparados muito próxima do que diz da ilusão religiosa. para considerar a produção do sublime como o efeito de uma explosão do imaginário. 1. N. do T. Trata-se do último parágrafo da Conferênci8 SQ) Freud em contradição consigo mesmo. XXID: as-caminhos da fonnaçãodossintomas( I 916-191 7}; Malaise dans la civilisation inicia com a ques cf. f'reud, S. "Conferências Introdutórias sobre Psicarullise", tão do sentimento oceânico no debate com l}iiçiioStandardBrasiieim, vo1. XVI. Rio de. Janeiro,~ 1976, Romain Rolland. Mostra-se capital para Freud p.438-439. 8 9 PRELIMINAR A UMA REVISÃO DA CONCEPÇÃO ALAIN OIDIER-WEILL tar honra, poder, riqueza e o amor das mulheres. Esta concepção está, para ele, ligada ao fato Mas faltam-lhe os meios de providenciar para si de que o princípio de prazer~ como objetivo tais satisfações. E por isso, como todo homem in da vida, não pode proporcionar, por causa da satisfeito, ele dá as costas para a realidade e con cultura, uma felicidade duradoura, pois não centra todo seu interesse, e também sua hbido, nos consegue senão momentos fugidios de satisfa desejos criados por sua vida imaginativa (. ..) "1 ção relacionados a uma descarga de tensões. • Interrompo essa citação, cujo aspecto Observamos quanto a isso que Freud, ao reducionista é patente, para observar que fazer do princípio de prazer objetivo da vida Freud deixa de considerar a questão do belo. (Malaise dans la civilisation, 1928), deixa de Ele se interessa pela intenção do artista sem lado o que havia dito, oito anos antes, sobre a se deixar questionar pelo produto artístico pulsão de morte como objetivo da vida. como tal, que existe independentemente dos 3º) Freud pensa o artista sob um ponto de aspectos psicobiográficos do criador. vista eterno, sem o situar como intérprete con Eis por que Freud não se pergunta o que é creto e singular de seu tempo. o sublime, mas apenas o que é a sublimação. 4°) Freud interpreta a narcose facultada pela 212 A arte como sedativo. Em numerosas arte romo ligada a forças imaginativas do artista. ) passagens, Freud trata a arte como um seda Nisso ele está defasado em relação aos artistas de · tivo, como um ópio, como uma consolação, seu tempo, que, desde Kant, estavam preparados muito próxima do que diz da ilusão religiosa. para considerar a produção do sublime como o efeito de uma explosão do imaginário. 1. N. do T. Trata-se do último parágrafo da Conferênci8 SQ) Freud em contradição consigo mesmo. XXID: as-caminhos da fonnaçãodossintomas( I 916-191 7}; Malaise dans la civilisation inicia com a ques cf. f'reud, S. "Conferências Introdutórias sobre Psicarullise", tão do sentimento oceânico no debate com l}iiçiioStandardBrasiieim, vo1. XVI. Rio de. Janeiro,~ 1976, Romain Rolland. Mostra-se capital para Freud p.438-439. 8 9 P!RF.UMINAR A UMA REViSÃO DA CONCEPÇÃO ALAIN DIDil!R-WEJLL não denegar a existência deste sentimento como o que chama o homem ao mais-além dos "estou disposto a admitir a existência do sen ümites da vida -, devemos retomar a concep timento oceânico em um grande número de ção freudiana da sublimação tal qual se apre .homens"-, mas subtrair-lhe um papel origi sentava antes de 1920. Nesta perspectiva, re nal na origem d~ vida religiosa. pensamos a sublimação ligada a um ~p~o à • simbolização e não a uma dessexualizaçao. A Na verdade, se fosse esse o caso - uma sublimação seria, nesta perspectiva, não secun posição mística original na origem da religio dária em relação ao sexual, mas primária, es sidade -, a concepção freudiana de Totem et trutural, de tal sorte que o dualismo freudiano tabu ficaria arruinada,uma vez que, para (Eros-Tanatos) corresponderia à divisão Freud, o sentimento religioso é efeito de um construída por Lacan entre: assassinato primordial que induz, com a apari ção do remorso, o retomo de wn pai todo-po - o Eu assujeitado ao objeto sexual pela deroso que é o verdadeiro fundador da religião. ordem libidinal (Eros), O ponto que Freud não chega a pensar é - o Sujeito assujeitado à ordem simbóli que haja um laço originário entre o assassi ca, que Lacan interpreta como máscara da nato do pai e a aparição do sentimento oceâ pulsão de morte. nico. Com efeito, a concepção trazida por Lacan do significante do Nome-do-Pai é a de São assim postos em perspectiva dois ti uma metáfora indutora de uma superabun pos de desejos antinômicos: desejo conforme dância vital, cujo caráter ilimitado evoca para o Eu, causado por aquela causa material que é nós o ·sentimento oceânico. o objeto sexual; desejo X, causado por aquela causa material que é a finalidade significante. Se vincularmos esta experiência do ilinúta do, que é o sentimento oceânico, ao que Freud Lacan substitui esse dualismo freudiano introduz com a pulsão de morte - entendida pela trilogia RS.l., o que tem por função criar 10 l1