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ImpacIêncIa do conhecImento Aproximações aos Sonâmbulos de Hermann Broch PDF

253 Pages·2015·1.86 MB·Portuguese
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ImpacIêncIa do c onhecImento Aproximações aos Sonâmbulos de Hermann Broch daniel Reizinger Bonomo Série: Produção Acadêmica Premiada Daniel Reizinger Bonomo ImpacIêncIa do conhecImento Aproximações aos Sonâmbulos de Hermann Broch Programa de Pós-Graduação em Língua e Literatura Alemã Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas São Paulo 2015 UniveRSiDADe De São PAULo Reitor: Prof. Dr. Marco Antonio Zago vice- Reitor: Prof. Dr. vahan Agopya FaCuLdade de FiLosoFia, Letras e CiênCias Humanas Diretor: Prof. Dr. Sérgio França Adorno de Abreu vice-Diretor: Prof. Dr. João Roberto Gomes de Faria serViÇo de editoraÇão e distribuiÇão FFLCH usP Helena rodrigues mtb/sP 28840 Diagramação: Davi Masayuki Hosogiri Copyright © daniel reizinger bonomo indicação Premiada do Programa de Língua e Literatura Alemã 2013. Catalogação na Publicação (CIP) Serviço de Biblioteca e Documentação Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Bonomo, Daniel Reizinger. B719 Impaciência do conhecimento [recurso eletrônico] : aproximações aos Sonâmbulos de Hermann Broch / Daniel Reizinger Bonomo. -- São Paulo : FFLCH/USP, 2015. 1832.96 Kb ; PDF. -- (Produção Acadêmica Premiada) Originalmente apresentada como Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2012. ISBN 978-85-7506-269-2 1. Literatura de expressão alemã (Crítica e interpretação) - Áustria. 2. Romance. 3. Teoria literária. I. Broch, Hermann, 1886- 1951. II. Título. III. Série. CDD 839 agradecimentos Ao professor Helmut Galle, por toda a atenção e amizade; ao professor Carl Wege, por tanta coisa; aos professores João Adolfo Hansen e Marcus Vinicius Mazzari, pela solicitude; à professora Monika Ritzer, minha orientadora na Universität Leipzig; aos professores Elcio Cornelsen, Jorge de Almeida, Paulo Astor Soethe e Sandra Guardini Vasconcelos, por participarem do exame de qualificação e defesa da tese; ao CNPq, pelo auxílio aqui e na Alemanha. Ao DAAD; a todos os amigos, mencionados ou não. A Ana e Andrei, a Caru e Pedro, pelos anos de camaradagem; ao caro Alê, por todo o interesse e sugestão; a Henrique Xavier, por acompanhar de perto; aos amigos primeiros de Suzano e aos de Leipzig, princi- palmente Stefan e Julia; a Helano e Klaus, parceiros em dias frios; a Reinaldo e Élida, sempre queridos; a Ana Flora, Cide Piquet, Claudia Dornbusch, a Danilo e Rê, a Emanuel e Bia, a Júlia Hansen, a Rodrigo Villela, a Valéria Pereira; à minha família. Aos meus pais, Renilda e Roberto Bonomo, por todo o respeito e carinho; a Gabi, pela generosidade; a Maria Luiza, por mais generosidade e pela revisão cuidadosa do texto; a Márcio, Júlia, Filippe e Pedro Calonge; a Joana, companheira em tudo. Oswaldo Goeldi (1895-1961), Sonâmbula, s.d. (Coleção Pinacoteca do Estado de São Paulo) sumário Introdução p. 8 Primeira parte 1. Sobre romances e crises p. 14 1.1. Coisas e loisas p. 14 1.2. Romance em crise p. 20 1.3. Crise em romance p. 30 Excurso: Aborrecimento e romance (primeira tentativa) p. 45 2. O romance e a ética da totalidade de Hermann Broch p. 53 2.1. A base romântico-idealista p. 53 2.2. Romance e totalidade p. 57 2.3. James Joyce und die Gegenwart p. 63 2.4. Aspectos da recepção de Joyce na Alemanha p. 65 2.5. O comentário de Benjamin p. 67 2.6. A obra de arte da totalidade segundo a dimensão e a época p. 69 2.7. Segundo a construção e o efeito p. 72 2.8. O exemplo de Goethe p. 78 2.9. A trilogia epistemológica e poli-histórica p. 80 3. O realismo e a metafísica dos Sonâmbulos p. 83 3.1. Duas retóricas p. 83 3.2. A realista p. 85 3.3. A metafísica p. 100 Excurso: Aborrecimento e romance (segunda tentativa) p. 115 Segunda parte 4. Pasenow ou o romantismo p. 120 4.1. O caso Pasenow p. 120 4.2. O romance de família do neurótico p. 121 4.3. A ameaça do desejo p. 123 4.4. O passado por vir p. 127 4.5. A linguagem do substituto p. 130 5. Esch ou a anarquia p. 134 5.1. O caso Esch p. 134 5.2. A justiça engasgada p. 135 5.3. A redenção do futuro p. 139 5.4. A contabilidade do amor p. 143 5.5. A linguagem do símbolo p. 147 6. Huguenau ou a objetividade p. 152 6.1. O caso Huguenau p. 152 6.2. A máquina do presente p. 152 6.3. O homem sem ornamentos p. 156 6.4. A linguagem da coisa p. 159 6.5. Teologias privadas p. 161 7. Bertrand ou Os sonâmbulos p. 166 7.1. O caso Bertrand p. 166 7.2. Um mais que personagem p. 168 Conclusão p. 181 Referências bibliográficas p. 186 Apêndice James Joyce e o presente p. 203 A mundivisão do romance p. 222 O romance Os sonâmbulos p. 242 Problemática, conteúdo, método dos Sonâmbulos p. 244 Construção ética nos Sonâmbulos p. 246 Sobre os fundamentos do romance Os sonâmbulos p. 248 O desmoronamento dos valores e Os sonâmbulos p. 252 Produção Acadêmica Premiada - FFLCH introdução Mas os livros são sonâmbulos que não devemos despertar. (Blanchot 2005: 165) Nos últimos anos de vida, mesmo que tomasse outros assuntos por prementes, Hermann Broch (1886-1951), o autor austríaco dos Sonâmbulos e da Morte de Virgílio, perguntava ainda por uma “forma romanesca” (romanartiges Gebilde) (KW13/3 343).1 Procurava, no momento, recuperar textos publicados no passado e esparsamente, restau- rá-los, acrescentar alguma coisa inédita e reuni-los em outra unidade, um “romance em onze contos”, cujo título, Os inocentes, se referia de modo irônico ao período que precede a catástrofe política e humana do nazismo. Broch sabia que aquele mundo era já distan- te, que os tempos eram outros e não por isso menos graves, e sabia que aqueles textos se apresentavam algo deslocados de seu contexto original. No entanto, apesar das reservas, tinha por válidos e sérios assuntos conhecidos desde os primeiros estudos e tentativas po- éticas, e demonstrava guardar questões e inquietações não intactas, mas preservadas do esquecimento e estimuladas por trabalho intelectual zeloso, nunca esmorecido. Assim, falava uma vez mais sobre o andamento da desintegração dos valores, sobre a tarefa de totalidade do romance, a insuficiência dos procedimentos realistas, a relação da ciência com a arte, da filosofia com a literatura, e mais temas de igual peso: A forma do romance – mesmo que se trate de obras de consumo fabricadas sem nenhuma ambição artística – modificou-se consideravelmente ao longo dos últimos anos. Como toda a arte, o romance também deve apresentar uma visão total do mundo, e particularmente a totalidade das vidas de seus personagens. Esta é uma exigência cada vez mais difícil de realizar num mundo que se torna a cada dia mais dividido e mais complexo. Atualmente o romance exige uma maior amplidão do material, ao mesmo tempo em que para dominá-lo, precisa de abstrações e organizações mais rigorosas. O romance antigo cobria setores parciais. Era romance formativo, romance social ou romance psicológico. Entre seus grandes méritos figura o de fre- quentemente ter sido precursor da ciência, sobretudo no que se refere ao estudo dos fenômenos psíquicos. Numa fase de nítido radicalismo, como o de hoje, o romance pseudocientífico já não tem vez e os conhecimentos que a literatura propicia nesses campos não passam, quando muito, de triviali- dades popularizantes. A ciência, por sua vez, não pode fornecer totalidades. Deve entregar esta tarefa à arte, e com isso, também ao romance. Dessa 1. a sigla corresponde à edição comentada da obra de hermann Broch, organizada por paul michael Lützeler, Kommentierte Werkausgabe (1974-1981), seguida do número do volume e da página, como acima (KW13/3 343). 8 Produção Acadêmica Premiada - FFLCH maneira, o aspecto integral, exigido da arte, adquiriu um caráter radical an- tes inimaginável, e para satisfazer essa exigência, o romance precisa de uma multiplicidade de planos, para cuja elaboração certamente não basta a velha técnica naturalista. Deve-se representar o homem na sua totalidade, com toda a gama de suas experiências vividas, desde as físicas e sentimentais até as morais e metafísicas.2 (1988a: 304) O trecho, que não disfarça as formas imperativas, lança compromissos e virtudes à conta da literatura sem exatamente repetir a opinião austera do escritor que, pouco depois de concluir um dos mais acabados e difíceis romances do século XX, no qual tra- balhara durante anos, dizia: “O Virgílio tornou-se-me em objeto de esquecimento e ódio bem merecido, por me ter afastado por tanto tempo do trabalho científico”.3 Afirmações dessa natureza, formuladas de quando em quando, incentivaram a célebre expressão de Hanna Arendt, que o chamou poeta “à revelia” ou “a contragosto” (Dichter wider Willen) e elevou tal conflito à condição de essencial.4 Arendt está certa, mas a ênfase na fatalidade do poeta e na contrariedade pode causar enganos. As questões coligidas por ocasião dos Inocentes, que não acreditam na transformação do homem pela poesia e veem no abur- guesamento do mundo um péssimo sinal,5 apontam para a convicção dilatada e sólida de Broch acerca do vínculo entre atividade poética e comprometimento, entre poesia e conhecimento. Em todo caso, não recusam o poeta e recuam a problemas da forma ro- manesca e de uma ética literária discutidos já à época dos Sonâmbulos, sua primeira ficção de fôlego, ou a pesquisas poéticas ainda mais antigas, de quando assinava textos cujos tí- tulos, se não assustam, soam tão provocadores quanto “Quatro sonetos sobre o problema metafísico do conhecimento da realidade” (1915) e “Uma novela metodológica” (1918). Os sonâmbulos, como o “romance em contos”, o Virgílio, a “Novela metodológica” e os tais sonetos, é uma literatura do conhecimento. Broch, em certo momento, pensou em qualificar a obra de “romance histórico” (KW13/1 79). Contudo, preferiu as desig- nações “romance epistemológico” e “poli-histórico”, que melhor correspondem à sua 2. a tradução é de herbert caro, o texto consta da edição brasileira dos Inocentes. Quanto aos Sonâmbulos, citamos a partir da tradução em língua portuguesa de António Ferreira Marques e Jorge Camacho (Lisboa: Edições 70, 1988-89) e acrescentamos em notas os trechos originais correspondentes. Quando há trechos grifados, trata-se de interferências nossas nas traduções (quase sempre evitadas). As citações aparecem acompanhadas do ano da edição e do número da página entre parênteses, como acima (1988a: 304). Há tradução brasileira dos Sonâmbulos de Marcelo Backes (São Paulo: Benvirá, 2011). A tradução brasileira apareceu quando já havíamos redigido parte substancial de nosso texto, o que justifica nossa decisão pela tradução portuguesa. Aqui, não nos pronunciamos quanto aos méritos e deméritos de tais traduções, uma vez que não procedemos a nenhum cotejo mais detalhado, mas reconhecemos o desafio assediado de não poucas dificuldades que é traduzir Broch. 3. Trata-se de carta de Broch a Iwan Goll. A tradução é de António Sousa Ribeiro (apud Scheidl 1984: 271). 4. cf. Homens em tempos sombrios (1987: 99-131). 5. “Como é terrível esse progresso liderado pelo pequeno-burguês! E, evidentemente, ele continua avançando sem que ninguém o detenha. Em toda a parte do mundo aumenta o número de campos de concentração; em toda a parte intensifica-se o terror. O espírito nazista dos pequeno-burgueses parece prestes a tornar-se paradigma da humanidade inteira, que se dispõe a descobrir na matança abstrata não a meta de sua vida, mas certamente a de sua morte.” (1988a: 306) 9 Produção Acadêmica Premiada - FFLCH feição filosófica. Pois, nos Sonâmbulos, como em tudo quanto escreveu, literatura é “im- paciência do conhecimento”, isto é, cumpre com uma tarefa que não se pode esperar da ciência, qual seja a de configurar uma totalidade. A ciência, diz Broch, deve “pavimentar o mundo de átomos”, enquanto o homem, impaciente, “não possui mais que uma vida curta e grita por totalidade” (KW1 731). A imagem é urgente. Porém, essa totalidade – noção multívola – é cada vez mais intransponível e difícil, senão impossível de pressentir em tempos absolutamente babélicos como os do “desmoronamento dos valores” e ainda os nossos. Daí a incumbência desmedida, o atrevimento e a necessidade de técnicas por assim dizer “avançadas” de representação que fazem do romance de Broch e de alguns companheiros de geração episódios únicos e excessivos da história do gênero. Adorno, em meados da década de 1950, referiu-se à ambição exagerada dos ro- mances de Broch, desaprovando os resultados de suas intervenções nada ponderadas como autor, sua evidência indiscreta na própria obra, mas não foi além da opinião.6 Por sua vez, no ensaio que dedicou a James Joyce – contribuição extraordinária para a fortuna do escritor irlandês e para o debate literário moderno –, o autor dos Sonâmbulos preferiu indagar se o próprio tempo não daria razão à obra de arte que veio à luz numa outra época, mais ou menos distante; preferiu reparar na conquista da “realidade histó- rica” mediante a passagem dos anos, averiguar se essa obra se converteu em realidade, dispensada do jogo belo e embria- gante surgido a cada vez que a onda do tempo quebra e lança à superfície suas cores e formas novas: que não havia sido um jogo evanescente, mas uma realidade que faz justiça a seu tempo e enraizada em sua época, existen- te e sólida como todas as realidades que uma época faz surgir, uma realidade submersa e que submerge no fluxo dos tempos em virtude do próprio peso, que nada mais pode arrastar e reluz de sua profundeza renovadamente, do mesmo modo que, inabaláveis e atuantes, perdura o espírito de cada período e, às vezes, também o espírito de uma geração em tempos posteriores.7 6. Cf. “Posição do narrador no romance contemporâneo” (2003: 58). Apesar da desaprovação, não há por que insistir na recusa de Adorno a Broch, que só teria algum mérito se atentasse igualmente naquilo em que coincidem. No ensaio em questão, a passagem seguinte – imediatamente anterior à referência a Broch – é aliás um tanto brochiana. “Pois quanto mais se alienam uns dos outros os homens, os indivíduos e as coletividades, tanto mais enigmáticos eles se tornam uns para os outros. O impulso característico do romance, a tentativa de decifrar o enigma da vida exterior, converte-se no esforço de captar a essência, que por sua vez aparece como algo assustador e duplamente estranho no contexto do estranhamento cotidiano imposto pelas convenções sociais. O momento antirrealista do romance moderno, sua dimensão metafísica, amadurece em si mesmo pelo seu objeto real, uma sociedade em que os homens estão apartados uns dos outros e de si mesmos. Na transcendência estética reflete-se o desencantamento do mundo.” Tradução de Jorge de Almeida. 7. Tradução nossa (também nas demais citações da obra não ficcional de Broch incluídas ao longo da pesquisa, onde apresentamos, em regra, os originais). “[...] ob dieses Werk zur Wirklichkeit geworden ist, enthoben dem schönen und berauschenden Spiel, das jedesmal da ist, wenn die Welle der Zeit aufs neue aufrauscht und ihre neuen Farben und Formen zur Oberfläche wirft: daß es kein Spiel gewesen war, das sich verflüchtigt, sondern eine Wirklichkeit, bestehend und fest wie alle Wirklichkeiten, die eine epoche hervorbringt, zeitgerecht gekommen und in ihr verwurzelt, eine Realität, eigesenkt und einsinkend vor eigenem Gewicht in die Fluten der Zeiten, von keiner mehr wegzuschwemmen und immer wieder aus ihrer Tiefe leuchtend, gleichwie der 10

Description:
seguinte, ao encerrarmos a primeira parte da pesquisa, retomamos, de certa maneira, o. Geist einer jeden Periode und manchmal sogar auch der einer Generationsspanne unvergänglich und bis in die spätesten Zeiten lebendig weiterwirkt.” (KW9/1 63). 8. cf. milan Kundera, A arte do romance (1988:
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