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Henri Wallon: psicologia e marxismo PDF

105 Pages·1978·90.09 MB·Portuguese
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~ eAc~ittes rvelari ~unlor HENRI Colecção: PERFIS © l!:ditionsDenoêl.zGonthter Título original Psychologie et Marxisme PSICOLOGIA Tradução de O Calado Trindade eív Capa e orientação gráfica: Estúdio Vega Direitos de tradução para a língua portuguesa reservados por Editorial Vega Rua Jorge Ferreira de Vasconcelos, 8- Lisboa-2 Composiçãoe impressão : Tip. Garcia & Carvalho, Lda. Rua Santo António da Glória, 90- Lisboa Colecção ~ 3000ex., em Março de 1978 '7 7Junior cAc~ittes q)elari , . RENEZAZ1D HENRI NOTA SOBRE O AUTOR e René Zazzo é Professor de Psicologia Genética na Universidade de Nanterre. Desde 1962, sucedeu a Wallon na Direcção do Prefácio de Laboratório de Psicologia da Criança da Escola Prática de JOAQUIM BAIRRÃO Altos Estudos de Paris. Antigo assistente de Wallon e discípulo de Arnold Gesell, com Professor no I. S. P. A. e Director do Centro de Orientação e Observação Médico-Pedagógica (M. A. S.) quem trabalhou nos Estados Unidos e de cujas obras foi o introdutor em França, Zazzo é por sua vez um psicólogo da Posfácio de infância com individualidade própria. Dos numerosos livros e JEAN PIAGET artigos que publicou, destacam-se Deoenir d'Intelligence et Quo- tient dJÁges (1941), Psychologues et Psychologies d"Amérique (1949), Les jumea'/,txJle couple et la perscmme(1962), Conduites W et consoience (1962), Mamuel de l'examen psychologique de lJenfant (1962), Traité de PsyoholQgie .de fEnfant (1969) e ••• EDIfORIAL Les Débélités (1969). PREF ACIO A EDIÇÃO PORTUGUESA Não nos é possível por aqora, fazer uma reflexão aprofun- dada acerca do trabalho de René Zazzo, Vida e Obra de Henri Wallon, pequeno livro que é) aliás) uma bela,introdução ao pen- samento de WaUon feito pelo seu discípulo e continuador, e que noutra altura aprofurvdarei como merece. Por agora) âaâa a impossibilwde de um tal estudo) sugiro ao leitor um possí- vel modo de abordar a presente obra. Começarei por recordar reswmidamenie o capitulo «Retrato de Henri Wallon» no qual Zazzo nos fala do homem. == - Wallon foi realmente um mestre que permitiu. que algo se orçomieaese à sua volta) sobretudo o trabaiho de várias pessoas) graças à uüerliçaçõo do «afectioo» e do «científico». Ê essa presença física) psicológica e científica que Zazzo aborda com afecto e admiração. Assim foi possível que nascesse '1!4lkPL~ggl!b uma comu- nidade de trabailho e não uma «seita» ou «capela». Daí a impor- tância de certas personalúladês que sirvam de modelo a outras para o progresso do conhecimento. Sílvio Lima dizia num con- texto aproximado: «As noSSG!8Universidades e Instituios, ... têm enfermado da carência de poderosas indimdualidades cria- 7 âoras à Wundt) Piéron e Michotte.» Direi sobretudo que se (génese dos tipos motores e peicomoiores ) até à qénese do sente entre nós a falta de personalidades como W<lillon)onde ~psiquico (~a1Y!-f:..1'!.to).Por outras palavras) do comportamento o cientista se liga atenta e militantemente ao político) contri- motor às estruturas mais evoluídas) cogniti:vas ou categoriais), buindo para as grandes transformações. Como nos diz Zaezo: a conduta se vai organizando. Mas é através de uma noção- a ciência que faz o marxismo e não o marxismo que faz a -chove, a emoção) que se estabelece a relação entre biológico)(L,~:ç~ «1~ o,> ciência.» ',..social e psicológico. Primeiramente ligada ao tónus, seu suporte) ,~:.,:,,' Da resistência à libertação) da longa noite da destruição a emoção diferencia-se através c!.:!!~ocialização.(o papel do 60- da razão - o fascismo - à alvorada de libertação) Wallon cius ou de outrem 00 edificação do psiquismo) para culminar foi exemplar) congregando) apesar de tudo e de todos) amigos naquilo que se poderá) impropriamente talvez) chamar perso- e cotaooroâores que «à sua luz» fizeram progredir as ciências nalidade. ;/',(, "",,,.:,'' /((i" /(') do Homem e contribuíram) na medida do possível) para uma Assim se estabelece um sistema. eqyd,libr{tç{6·7e' articulado sociedade mais justa. entre aspectos r}§U!.obiológicos) aspectos sooio-ajectivo« e as-' Da libertação e dessa colaboração) recordo a Reforma Lan- pecios cognitwos. v-- . 1(( \, .2.~"". gevin-Wallon, que ainda hoje a França não ousou par razões Essa neuropsicoioçia, hoje tanto em voga sobretudo nosi óbvias pôr em prática na sua totalidade. autores americanos e ~~tiç,Q§,.t.I)K\fW, allon foi o primeiro a re- l-" 0_ ~ ,11• {()I, Vejamos em sequuia um outro capítulo) que escolhemos conheoê-la embora com o nome de Psicobioloçia. Aliás) o Labo-!'I,~:'."I'"~ , por nos parecer ser um resumo da obra de Wallon) feito em ratório Wallon) nome que tomou após a sua morte ocorrida ( intenção dos psicólogos americanos que praticamente o des- em 1962) chama-se «Laboratório de Psicobiologia da criança», I conhecem. Ê o capítulo «Quem é Henri Wallon». Como nos nome proqranuitico, e eluoidxüico do que vimos dizendo. Recor- diz Zazzo) Wallon é conhecido por toda a parte, mas existe demos finalmente que no_pr..Qj§ctowalloniano de psicobiologia) «um último universo para conquistar) o do mundo omçlo-saaxi- t; él estâ também para além da fundaçãº~r:~~iológicai e genética; nico». Talvez que esse desconhecimento se deva à complexidade (no sentido do desenvolvimento) ~ma fundarrr/,entação pato~~~ 'li ,)0. da obra) que propõe }~!.!HL'IJÍ!:I-_originpaalra explicação do com- c. .':11,[. ,gica. Basta recordar q,ue os ti-;RQ~r!~c~t;!;tgr:f:;§estão intima-"~ I cwJ portonnento. mente relacionados com os ~~~,~d!! i-.-~ticiê~, psico- ~ Em 1925, com a publicação de l/:iTInfan,t ~U1:bJ.+l~J}Wt.aUon '!J!9t.ora. ./)i::.rcJ:_'x, propõe aquilo que mais tarde se chamará uma ~r...o.:R.sjc..ºlg- Vamos terminar este breve prefácio citando Zazzo: «A mo- 1l.ia». Em 1925 não tem ainda a possibilidade de erigir tal ciên- trioidxuie e a consciência são os dois pólos entre os quais se cia) que sob certos aspectos aprofunda por volta dos anos qua- poderia classifcar as várias concepções de psicologia. A dia- renta) em Les Origines du Caractêre chez l'Enfant. léctica de Wallon consiste em unir aquilo que à primeira vista Na primeira obra ele tenta mostrar (descrever) e explicar nos surge como não conciliável: através M8UaJ teoria da emo- çO'rl19. o~t.§'!'Ut nervoso se vai hierarquizando. De comporta- ção ele OP-eT'CU!..junç.,il-oJ2n,tn~.,_tLmotr.w1l!MkfLJ....!!.:r.f311I.~entaçãp.J mentos' simples (cotos) ele vai dJiferenciando cada vez mais tenta a ~sag~ entre o orgâniQo Ç9,.P....siqu~» l ~lr'~',.(":--t.I)E ,-",,-.-,,-, \ ,.I V,,'f";' WêÇÀ~ '8 ,I' (.".~''-';" -' fi \ 1."'1("~, .,.,.' rt " --) '\ :; Ir,'I;ICe ,,.., '~ Eis uma muito breve reflexão sobre uma obra gigantesca) que parece cada vez mais aotual, dados progressos simul- 08 tâneos dos estudos ne:wrobiológicos e da psicologia. Wal~._é o ~f!.0!:!.'s~ de..•~.~•ov.a_ c~n:cia) é essa a adver- I . tência de Zazzo) na presente obra. c >_)rr/_,\\)i"'-. I1 ( v, Itt""L ~n Qj !~4."'·' T"'crt-,..Ju;1 Março de 1978. .0A.re ''3'' ._,? 'I,' r.Ó,ca. /; ~(..,? ,.r ! ~({) l' -j"I,...{.'Ó».('.Ia ',1 r)u I, ". C\ (,'" I " ''1 JOAQUIM BAIRRÃO 'çI') ,-.'." )' PREFÁCIO Ao decidir publicar uma recolha de alguns dos artigos que consagrei a Henri WaZlon)renuncio sem dúvida definitivamente ao projecto de escrever um estudo de conjunto sobre a sua obra. Deixo outros, menos próximos dele) o risco e o mérito de QI um tal empreendimento. Se é oerâade que parece a todo o leitor que Wall<mé um .' autor difícil de apreender) de abarcar) de assimilar completa- mente e) sobretudo de transmitir a outros) nomeadamente aos estudantes) o facto é q:uea dificuldade é ainda mais paralisante para mim que trabalhei com ele durante um quarto de século. '~~"i~' Se redigisse um livro sobre ele) recearia construir uma ( estátua de mármore e de sal) se desse uma apresentação siste- mática da sua obra) temeria torná-ta um sistema) com a caução o.busiva que me dá a minha qualidade de sucessor na direcção do seu laboratório. Os esboços que constituem. os meus artigos dispares não apresentam estes perigos. Oonvêm melhor ao tipo de relações que se estabeleceram entre mim e Wallon) no plano intelectual e no plano humano. Em certos momentos) já não sei se é ele ou se sou eu quem fala. Nestes textos que contêm repetições ine- vitáveis) não inponho a minha leitura de Wallon como a única 10 11 ? 11. ;r J ,~<k é o tecido comum e original de onde procedem as di/e-):' ,:i'~'; possível. Digo o que ele me dá e as perspectivas que me abre I rentes realizações da vida psíquica. 'u.c.,J~ nos campos da psicologia) esperando despertar o apetite do lei- Nestas duas construções aparece claramente o projecio ~);,"1 tor e que este descubra nas obras de Wallon uma outra coisa, os alimentos de que precisa. u-alloniano, ao mesmo tempo a questão fundamental que le- ,'.' 'vamto. e a direcção que propõe para resolcê-ta. Para Wallon, tal :Y Estes esboços também são mais convenientes do que uma -' _~,o -'- como para Freuâ, a questão principal é a passagem do biológico "":,,f!:~ exposição didáctica das maneiras de pensar e de escrever ró- \.' _, I ao psíquico. No entanto) ao passo que Freud apela para uma ;..(,';.:; prias de Wallon. Não porque ele próprio proceda por esboço. roetopsicoloqia, para forças hipotéticas) Wallon empreende a M.uito pelo contrário) o traço do seu pensamento é sempre muito r , d, " o.nálise das emoções originais) isto é)afinal de contas, ~ moda- firme) o seu discurso frequentemente de uma extrema densi- lidades arcaicas da sensibilidade e do movimento. dtuie. E é esta densidade) esta riqueza) que se presta a uma ( . < -••••-•.•• \.~ multiplicidade de leituras. Refiro-me a leituras complementaxes '. As actualidades da psicologia) em 1975) confirmam a actua- ,j,! f:·., não a uma diversidade de interpretações) pois o pensamento lidade de Wallon. C '.r,. ,:.~.i: de Wallon não é ambivalente ou ambíguo. - . A retomada dos trabalhos sobre a, primeira infância e, .~ Wallon deu-me um dia o conselho) muito significativo vindo nomeadamente) as recentes descobertas sobre 08 proceseos afec- ' .r. dele) mas que nunca segui) de não sublinhar nada nas meus tiooe, mostram-nos Wallon como um precursor. Sabe-se hoje em escritos, de nada realçar mediante o emprego de itálicos ou por dia com plena certeza ,qy,().,Çty~~~ ~ à mi!~Latrarvés qualquer outra forma. Com este processo) dizia) você limita a .c}Cl§,..'pcssoas que a. rodeiam) corresponde a uma necesSidade liberdade do leitor e .fixa de Uma v~.z.P!!Ltodas:o movimento inata. Ora WãZlon-ãfirrrui7;:ã)h'á mais de quarenta anos, na base do seu pensamento. '~>' 1 .... /,1.. -Ó, ; das suas observações) que a criança é um ser social g~j- Assím) mesmo nos modos de expressão tipográfica) velava Cf!~1!J.l??'l.t..~).lt.i!2lf2g.iQMa'a!1slçontq(:u[e<falta às teorias anglo-saxó- por que o pensamento jamais se congelasse em palavras) numa dcas da afeição é uma apreciação mais exacta do papel da categorização intelectual sempre rejormâvel. Acima de tudo) emoção para a compreensão deste processo. Wallon pode aju- ? ..; o que Wallon nos ensina ~ a viJlilâncifLÇ!lJIka oespi.ritº=!b~ ().. dar-nos a comrpletar esta teoria. Pode também ajudar-nos a e, compreender o súbito entusiasmo dos nossos contemporâneos le.rrJ.a. ~ ". '- o:. .'. pelos problemas do «Corpo» e a desmi8tificar este entusiasmo. Na sua obra existem) sem dúvida), ::t~n~~siste~" como' por exemplo a sua 1J;Qr:i.Ji fi,QS e..stá{f,io~o.u a Sua çg,Je,gori;:Jr,.çfidQo~. O misticismo é a conirapartida das incertezas da ciência. " tipos psic.Q1n...Qtor.eMs.as trata-se sobretudo das sínteses reta- r. Inicialmente) desejava intitular esta compilação do se- tivas a um certo estado do saber) e) sobretudo, das construções guinte modo: Henri Wallon. Contudo) aceitei o título Psicologia destinadas a ilustrar) num momento historicamente datado, um e Marxismo proposto pelo editor porque pensei que o próprio método e uma direcção da investigação em psicologia. Tratan- .. /Jo:'.' Wallon o teria aceitado. A primeira obra que ele dirigiu intitu- do-se de estádios) hoje em dia contestáveis) o princípio que ''I!,' lava-se Ã~lu~.<do~Js.m9J 1935) e ifefiniu eX1!:ligjJ..c!~!!teem subsiste é o de apreender a evolução da criança na sua ril.obali- A '': ~'ários ar!iggs o seu método c~~n4.QQ_ do m:..a~~ism~.dia- \ ,"""'~ é o de não fra.gmentar o devir em períodos estáticos. Tra- " I )0' ,,.' . tando-se dos tipos psicomotores, devemos reter que a motri- léotico. j .If'.,f( -'- r. ;1 .~ ...•,,'X 12 18 ,.~~ ~'t11 I I::j:,~r':1 No entanto,Liie_J:cc.ear um mal-entendido devido ao fado em reformar ou abolir as distinções ou categorias intelectuais v.'{. do marxismo, q~~..JJ.. Jipnúncia e reCU8.aderrQ~91ggÍ1! do passado que a tal se poderiam opor». C?rpgrecera.ctualmente espírito dos s.eus adversários e mesmo Mas Wallon considera que as belas declarações não resol- u "0,,' 11,0 no de muitos dos seus partidários ~Q. u'nUL-ideQwg},aJ »em nada: a ciência não se deduz do :marxismo) é o marxismo -I. ,~,~qJ!:Z os seus principi3s de acçÍio a partir da ci~cia em ~I:"~I) Na realidade, aquilo a que se chama marxismo é a emer- h ri > ~'::'Ai' formação) a partir das acçôes empreendidas pelo homem. Wal- gência, em meados do século passado, de uma nova idade do lon assim o exprime) claramente) em conclusão da frase acima f" "'" , pensamento. A súbita aceleração das irnsjormações da socie- citada: «Fazer estas constaiações não é dar uma solução ... daâe,a revelação~lL01Jtlitos sQCiqi§.QQ.'!!.!&..JII-511~ nem mesmo é dar um programa preciso de investigação; é ape- ,r'Ii'1J a revolução darwiniana que substitui a eternidade do homem 'I' , . pela ideu: da sua qénese, os fulgurantes progressos das técnicas nas indicar uma direcção». Tanto pela sua abertura em relação à experiência inédita das ciências, paralelamente aos desenvolvimentos da füosofia 6 das coisas) como pela firmeza do seu método) Wallon foi o Pri:.- crítica) tudo converge para uma tomada de consciência das lei« meiro aJluminar à luz 4Q_'lJ.§Idadeir9_rn:ar..a;,~~_~~~~inh08_da 'ít!Z;\.',\1'S 1ªue regem a sociedade, o homem, a natureza. O màterialismo; l!§...iqplggia;a. psicologia) a mais difícil das ciências) pois que é ['.. é a afirmação de que a natureza, quer seja física ou mental,' nela que as ilusões da subjectividade encontram o seu último é uma realidade objectiva que existe [ora e independentemente refúgio) pela insatisfação e pela impaciência que nos faz earpe- •da consciência. A~.-d-i-a-l-é-c-t-ic-"a'\..é_-o--m--é-to_d.-o -tque consiste em cons-i- rimeniar, ~ a todQS misticism98) a todas as inupos- r'_ ['r" Iderar que a natureza não é uma acumulação acidental de objec- QS turas. tos) que nenhum [enomenc pode ser compreendido se for enca- Wallon é a introdução e a ilustração do método marxista rado isoladamente) que os [enômenos devem ser considerados em matéria de psicologia. não apenas do ponto de vista das suas '(elaçõ~ e dos seus cim- O leitor encontrará em posfácio uma homenagem de Jean dicic;nament08 reciproao:,smas também do ponto de vista do seu Piaget a Henri Wallon. Este texto) publicado em 1962) algun. movimento) da sua transformação, que comportam contradi- .'l meses antes da morte de Wallon) é de um interesse excepcional: ções internas) conflitos) e que estas c.!!!I-tradiçõesdão conta.!!.os Piaget declara com muita clareza que acaba finalmente de com- processos de df2.§:~rw.al..~'tlt..Q. preender o contributo fundamental de Wallon a uma tC1lLÍfJd,a~ ,,' c-: Nesta perspectiva, ~(jo do ~omem não é absol~ta, n.§!!11 ~C representação e que escapa às suC!:spróprias análises. Empe- c.bsolutS!:.menterelatW.~ razão forma-se e transforma-se pelas nha-se então em démonStrar que)-pelo menos-neste -a~to) as razões das coisas) humanas e materiais. «As leis do pensamento) '1 J-.&- \9f obras de ambos são complementares e não adversas. ' ,-'~.'", ,"',,: ~", ....icscrece Wallon) 8Ó podem nascer e especificar-se através do seu ~~in-b'-",:' Agradecemos a Jean Piaget por nos ter permitido q,o ~C~,o.AÍl'incessante ajusttumenio às univer80». E também, tratando-se auzir esta homenagem que Wallon recebeu como uma última ~~ mais particularmente da psicologia, «a ciência essencialmente palavra de amizade e de paz. f":f>/,) 1·ez.a,:tivWa empenha-se em tecer novas relações entre todos os sistemas nos se reparte a nossa experiência das coisas q,UWÍ8 eâa vida) em [umâi-lo« cada vez 1naIÍ8uns nos outros, e)consoante Outubro de 1975. REN'S ZAZZO o que for exigido por esta obra de unificação pelo conhecimento I 14 15 ..} /L, ,'", ~" ,lr- . I' C\ 1:'" CAPITULO I i. ORIGENS E ACTUALIDADE DO PENSAMENTO M DE HENRI WALLON Experimento sempre uma certa ansiedade ao falar de Wallon quando se trata, como esta noite, de exprimir, de expor o essencial do seu pensamento. A minha longa familiaridade com a sua obra, a minha longa colaboração com ele, e o facto de me ter escolhido ·há mais de vinte anos para lhe suceder na direcção do seu laboratório, não me tornam a tarefa mais fácil. Muito pelo contrário. Estou por demais consciente de quanto há de inabitual na lógica de Wallon, de desconcertante nos seus esforços, nas suas maneiras de pensar, para ter a cer- teza de que não o trairei de algum modo junto de vós. Existem ~utores que se ~--Bimpliflc.ar:.....s.e.m._qJ!efiquem demasiado ,Erejudicados, e até por vezes prestando-lhes um servi~ço,.Já~q®:, J p seu pe.D~.:a.me1Ú.Q é UID~_i§.t~:l!-m.,já que as suas aparentes com- r lexidades não passam de um ruído de fundo, de um sortilégio verbal. Em Wallon, as complexidades, ~, C! s,l·,,·(j,< çU~.Q.e~~~o,,-9~~~r~~s, pois ~pondem_~iQ~ ~ ~JQL des,.ÇQb~_~.9.uer_resJ?!;litfairelmente na própria natureza :,';;.:,'::1:.. .'1>, d . ~ as COIsas. riJO/). f""~ Por conseguinte, não há, em Wallon, uma doutrina, não há ~s~~ - que para o leitor é sempre, mais ou menos, um sis- tema de segurança e para o autor uma esperança de glória. - - __w_ _ __• _ 1 17 I 2 . I , p. " i /f) p( ,) _,I I I I . b~' . r~~'-" Wallon é uma maneira de abordar as coisas, uma atitude, um Gostaria de vos tornar isto sensível, não penetrando no ~eJ)P1-' método - e o mais difícil, o mais incómodo de todos. pormenor da obra (o que não é possível aqui), mas antes si- ".-v'-1.IJUI!'. Por um lado, propõe-se como objectivo abarcar a realidade tuando esta obra na sua história, situando Wallon tal como ele --~'/;"'<'/ t:.:"': próprio se situou em relação aos grandes psicólogos que foram J J~l_c~~o ~e!a__~~(c.9~l~ .~!!~~~a~i?~~~~, seus contemporâneos, determinando as suas interrogações, os evitando a assimilação empobrecedora, def'ormante, da nossa seus temas fundamentais, a forma por que os revelou e IHla razão clássica, mas, por outro lado, este método fundamenta-se qual no-los legou. na convicção de que_~:t~ ciência nAº~~~~_p~~.~~r_!!!!!_ci~- Wallon no seu tempo, Wallon no nosso tempo. Wallon tal l'jllm!~.Jlª,.re~~i.ª~~: ~ como foi e Wallon tal como é entre nós, presente, e precursor , Quanto à atitude que consiste para o psicólogo em se con- das obras de amanhã. '---' fundir com o seu sujeito, Wallon denuncia-a não apenas como uma demissão científica mas também como uma ilusão, :l de No pensamento de Wallon, há um aspecto social e político todo o misticismo. Rejeita com vigor quase idêntico as preten que prejudicou a sua carreira e que alguns gostariam. de ignorar ções de um certo objectivismo, Ciência objectiva, decerto tanto ou de desculpar como algo puramente contingente e estranho em matéria de psicologia como outra qualquer, mas cuja objec- à sua obra científica. Não sou daqueles que consideram que se tividade se define por uma reorganização contínua da razão em faz necessariamente boa ciência de bons sentimentos. Contudo, contacto com as coisas. Assim, Wallon não é apenas um psicó- tratando-se de Wallon, parece-me hoje evidente que a sua sen- logo da criança. O seu projecto é uma.cíêncía do ho;mem. sibilidade pelas coisas sociais, uma sensibilidade alimentada no j' k~ç _ Se consagrou a sua obra ao estudo da criança, foi sem dú- meio familiar desde a mais tenra infância, foi a mola inicial da A·· ., . ~t/~J:(i."{q'U, -'d'\ivi•da porque a i•nfância o apaixonava e fOI tambem porque VIa sua obra científica. Ignorâ-lo seria o mesmo que nos condenar- J~~:;,:~n~aI"análise ~o desenvo~vimento, na observação de u~a génes~, mos a não compreender a gênese e o alcance desta obra. cc-, , - - 0e uma realidade em VIas de se fazer, a melhor maneira de apli- Henri Wallon nasceu em 1879. .I.l. car o seu me,todo. 1879. A república, terceira do nome, tinha quatro anos. :::)[::;1u" ,,~) Este método, esta dialéctica entre razão e realidade, en- Era então presidida por um marechal, MacMahon, vencedor da ~2tk- contramo-Ia praticada, ou pelo menos afirmada, em muitos Comuna de Paris, e governada por um monárquico, o conde ~!~~~_q outros autores. Em Piaget, por exemplo. Mas Victor de Broglie. Depois da derrota de 70 e do esmagamento -.§eJ!5~I!!w~eJ1.gjm:R~1~'~~ o que já não é da Comuna, a «ordem moral» reinava em França. Em 1875, o .: i",' pouco. 'Yallon~J:.:.Aj),e,t~Q&....tQi.al: por conse- termo de república fora admitido na Constituição, justamente, ". _' - guinte, a razão deverá aplicar-se a uma m.ª,~é~ª, que é, pelo por proposta de um deputado católico liberal. Este deputado: ,~1'&,'-~-'I',,c<;I' menos na experiência, profundamente heterogénea. - ' ~) Q/r} 'C'):.Gt?, chamava-se Henri Wallon e fora o avô do sábio que hoje home-i ,.•.': . O que acabo de vos dizer sobre a obra de Wallon, ainda que nageamos. Henri Wallon .era um historiador, aluno de Michelef f~,(f' ~-- a mesma se defina não por uma doutrina, mas por uma forma e.que este designara p~r.a lhe suceder q~a~do aban~on~u a SU~I~~l'~ ~." nova de abordar as coisas da psicologia, não passa, bem o sei, cátedra, Entrou na política como secretário da comissao pre~n-i,·.·.L· de uma afirmação de ordem muito geral. dida porWchoelcher] para a abolição da escravatura. I 18 19 A tradição liberal e republicana estava fortemente ~nrai- morte, oculta no_cor!:Q.~._~<e?goísmo... não será toda a nossa zada na família e Henri Wallon, o nosso Henri Wallon, passou independência ?» toda a sua infância num clima de interesse apaixonado pelas A emoção desta apóstrofe aos liceais, que é também um coisas públicas. Conta que uma das suas primeiras recordações, compromisso para si mesmo, vem dos confins da sua infância, .'e a mais comovente, foi a morte de Victor Hugo. Em 1885. do meio generoso em que viveu, e voltaremos a encontrá-Ia ('-)Tinha, pois, seis anos. Na noite em que Victor Hugo faleceu, muito mais tarde na interrogação que se encontra no cerne da depois do jantar, à mesa com a família, o pai leu fragmentos sua obra científica, e que vai transformar as perpectivas da :.J.:::' de Os Castigos. E, no dia seguinte de manhã, conduziu os filhos psicologia: ~uaL é..a.n~J~x~~-ª_das ~.!!.ç§~!lll(LnºªJlI!~~,_:.ªQs ( outros homens? --- a casa de Hugo e explicou-lhes que o poeta sempre lutara contra os tiranos. I Com este discurso, o primeiro texto que conhecemos de Alguns anos mais tarde, tinha então Henri Wallon dez Wallon, estamos em 1903. Henri Wallon tem vinte e quatro foi a aventura abortada do fogoso general Boulanger. De- l'.llOS, . anos. Fez a Escola Normal Superior e é profes:sor efectivo de lí pois, quando prestava serviço militar, o caso Dreyfus. O pai, ,I P filosofia desde há um ano. Mas a sua aprendizagem ainda não todos os sábados à noite, vinha esperá-Io à estação e punha-o terminou. Falámos do seu meio familiar; para compreender a ao corrente do processo durante o trajecto para casa. sua obra, precisamos também de dizer algumas palavras acerca Compreende-se assim o que terá inspirado esse espantoso da sua formação intelectual. Os estudos de medicina a que se discurso de fim de ano que Henri Wallon, então jovem professor lança depois da filosofia, a fim de se tornar neuropsiquiatra e de filosofia, pronunciou perante os alunos do liceu de Bar-Ie.. psicólogo, constituem uma opção precisa em circunstâncias -Duc. Wallon convida os liceais, à espera da sua recompensa de históricas bem determinadas. fim-de-ano e seguros de ter em breve uma situação no mundo, a interrogar-se sobre os seus pretensos méritos e sobre os seus Hoje em dia, em França, é frequente o p~~quia!!.'ª_.ILar~cer- direitos. ·JlQfLdivQ.~ciª-ªQ._~ª~-(Q)IQgº de profissão..,e isso acontece sobre- tudo quando este psiquiatra despreza a somátíca, se isola ela «Para vocês, as honras: e porquê,digam-me, porque tiveram neurologia e opõe uma filosofia do vivido às perspectivas objec- o privilégio de ir para o liceu... sem dúvida, no liceu, da socie- tivas da ciência. dade que trabalha para vocês chega-vos apenas um longínquo rumor e vagos apelos... Vamos tentar esclarecer as COlS~s; Na época de Wallon, trata-se muito pelo contrário de fun- noesob'"fsj"o,-e'-_.rc.uctn-eo-e-m_m..d.o.-.e--an-.o_to'a.-ssn-.--]ot.)a-uo"tr.rso~osvl--eichr~iot.s-um:-e:-.d--mee-ns..•.-ae-.m-..d~beVivgoouctiadêmsadneenãsoto,gpuonªdiã~eom_apssoed:rre:oemlac-çomõneatísnnqtueuore mçdãaeomtaefmnístéiadcraicoaa-fpiplsoaisrcótoifrliocgadioadcanoanphcseiicêcinomcloieagnitaodofdrocaonfrcípesoisc,ao,d.eAinraogumrgapunerdaredactorampdoi-ar ligados aos cuidados do vosso corpo e do vosso espírito tantos Pierre Janet, ilustrada por Georges Dumas, por Charles Bion- trabalhadores de todas as espécies... não podem absorver sem- JeL por Henri Wallon, é ao ensino militante de Théodule Ribot pre sem restituir... Esta dívida socia:l, apressem-se a procla- que deve a sua origem e os seus princípios. :m Ribot quem acon- má-Ia espontaneamente, enquanto ainda podem consentir em ","selha os seus alunos mais brilhantes afazerem estUdOide meÇ!} fazê-Io livremente ... Viver para os outros, não será desafiar a ~~. edificar a psicologia. 20 21

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