ESTADO E FORMA POLÍTICA ALYSSON MASCARO “A obra mais importante do pensamento político marxista nas últimas décadas!” Slavoj Žižek __________ 2 Marx disse que o segredo da mercadoria não reside em algum conteúdo escondido sob sua forma, mas em sua própria forma. Estado e forma política, de Alysson Leandro Mascaro, não aponta na mesma direção? Muito se escreve hoje em dia sobre a mudança do papel do Estado: daqueles que o consideram como um instrumento de regulação dos excessos do neoliberalismo àqueles que o descartam, vendo-o como um instrumento de dominação e opressão a ser superado por alguma forma de democracia direta. No entanto, todas essas abordagens caem na armadilha fetichista de lidar com diferentes funções e usos do Estado, desconsiderando as suas implicações fundamentais como uma forma política, ou seja, como a forma- Estado em si, para além de seu conteúdo (os interesses que representa etc.), tem implicações políticas fundamentais. O livro de Mascaro foca-se precisamente nessa dimensão crucial e, por isso, é simplesmente a obra mais importante do pensamento político marxista nas últimas décadas — um trabalho que fornece a estrutura conceitual básica para lidar com o tema do Estado. Um trabalho histórico que mudará todo o seu campo de estudo e estabelecerá seus próprios padrões! __________ 3 SOBRE ESTADO E FORMA POLÍTICA Estado e forma política surge e se afirma como obra referencial do pensamento político crítico contemporâneo. Superando análises dominantes no direito e na ciência política — conservadoras, liberais e institucionais —, o jurista e filósofo do direito Alysson Leandro Mascaro empreende uma aprofundada redefinição do Estado e da política, tomando-os a partir de uma perspectiva marxista. Ao investigar a totalidade social a fundo, a partir das relações de produção, Mascaro revela um campo político necessariamente atrelado às formas sociais do capitalismo, nas suas múltiplas relações e contradições. A interpretação do Estado, portanto, se dá com base nas categorias da mercadoria, do valor e das formas sociais capitalistas, permeadas por conflitos e lutas de classes. Mascaro opera tanto no nível dos conceitos mais tradicionais da teoria política e do Estado, forjando-lhes uma nova constituição, quanto avança para temas fundamentais da política contemporânea, como o sistema internacional de Estados, os debates da regulação econômica e as crises do capitalismo. Estado e forma política, obra inovadora e, na apreciação de Slavoj Žižek, incontornável, desponta como grande marco teórico para o estabelecimento de uma leitura transformadora, crítica e radical do Estado e da política nos nossos tempos. __________ 4 SOBRE O AUTOR Alysson Leandro Mascaro, jurista e filósofo do direito brasileiro, nasceu na cidade de Catanduva (SP), em 1976. É doutor e livre-docente em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo (Largo São Francisco/USP), professor da tradicional Faculdade de Direito da USP e da Pós- Graduação em Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, além de fundador e professor emérito de muitas instituições de ensino superior. Escreveu, dentre outros livros, Filosofi a do direito e Introdução ao estudo do direito, pela editora Atlas, e Utopia e direito: Ernst Bloch e a ontologia jurídica da utopia, pela editora Quartier Latin. É o prefaciador da edição brasileira de Em defesa das causas perdidas, de Slavoj Žižek, e da nova edição de Crítica da filosofia do direito de Hegel, de Karl Marx, ambos publicados pela Boitempo. __________ 5 SUMÁRIO Introdução .................................................................................... 8 1. Estado e forma política..................................................... 18 1.1. Reprodução capitalista e Estado ............................. 18 1.2. As formas sociais ...................................................... 24 1.3. A forma política ........................................................ 32 1.4. A derivação da forma política estatal .................... 38 1.5. Forma política e instituições políticas .................... 42 1.6. Estado e instituições políticas ................................. 51 1.7. Forma política e forma jurídica ............................... 58 1.8. A autonomia do Estado ........................................... 68 2. Estado e sociedade ............................................................ 81 2.1. Estado e especificidade histórica ............................ 81 2.2. Estado e luta de classes ............................................ 92 2.3. Fenômeno político e tecido social ........................... 99 2.4. O Estado ampliado ................................................. 108 3. Política do Estado ........................................................... 119 3.1. Estado e nação ......................................................... 119 3.2. Estado e burocracia ................................................. 125 3.3. Estado, cidadania e democracia ............................ 132 4. Pluralidade de Estados .................................................. 146 4.1. Capitalismo e sistema de Estados ......................... 146 __________ 6 4.2. Forma política e imperialismo .............................. 152 5. Estado e regulação .......................................................... 170 5.1. Capitalismo, Estado e regulação ........................... 170 5.2. Forma política e regulação .................................... 176 5.3. Estado, fordismo e pós-fordismo ......................... 183 5.4. Estado e crise ........................................................... 196 Bibliografia .......................................................................... 201 __________ 7 INTRODUÇÃO Durante longos períodos da história, a política foi explicada por meio de balizas ideológicas diversionistas, cuja afirmação lhe servia de sustentação social. Em sociedades escravagistas e feudais, nas quais os poderes dos senhores e reis eram legitimados por conta da vontade de um Deus, as narrativas políticas tinham como limite a reiteração da crença na delegação divina de poderes ao soberano e aos dominadores. A teoria, mais que postular explicações causais, descolava-se da própria realidade, avançando por pressupostos transcendentes, corroborando a manutenção da ordem social e política dada ao reinvestir ideologicamente o próprio objeto de análise. Com tais bases teóricas legitimavam-se os aparatos políticos, ao serem tratados ou como elementos da vontade oculta de Deus ou chancelados com os mantos da “ordem”, do “bem comum”, da “vontade de todos”. Em poucos momentos do passado encontram-se teorias políticas próximas de uma explicação mais concreta da realidade social. As condições da vida social nas pólis gregas, ao tempo da democracia, permitiram um avanço teórico a respeito da relação entre política e sociedade, como se pôde ver com Platão e, mais ainda, com Aristóteles. O mesmo não se deu com a maioria das outras explicações do poder da Idade Antiga e da Idade Média. Na Idade Moderna, muitas das visões a respeito do Estado e da política já buscavam se assentar em bases mais concretas, descolando-se daquelas lastreadas de pressupostos teológicos. Contudo, ainda estavam compromissadas ou com a manutenção __________ 8 de regimes de privilégios absolutistas, de um lado, ou, de outro, com a plena instauração de estruturas políticas burguesas. O pensamento político moderno – ainda que não mais teológico em alguns casos – era, no entanto, arraigadamente idealista no sentido de explicar a vida política com base em elementos metafísicos, fundando sua compreensão da política na noção de legitimidade racional do poder, em favor da manutenção da ordem existente ou das classes proeminentes, como no caso das teorias do contrato social. Com a chegada da Idade Contemporânea, o entendimento político adquire suas atuais nuances. Quando a teoria política burguesa deseja exatamente o mesmo que a prática política burguesa já conseguiu e instalou, então o pensamento político já pode deixar de lado a metafísica em favor de um fechamento de horizontes de explicação. Os contornos do Estado são justamente os que se apresentam na realidade – assentados inclusive com as estacas ideológicas típicas da sua afirmação nas sociedades contemporâneas –, e a política é a atividade que em seu entorno e em si se exercita. Nos termos formalmente postos, o juspositivismo é o instrumento excelente de tal explicação conservadora: o Estado é o que juridicamente se chama por tal. Via reversa, para o juspositivismo, o direito é o que o Estado chamar por tal. Nos termos das ciências sociais e da ciência política, erigem-se então o esquadrinhamento e a quantificação do já dado. Nessa chegada ao chão da explicação analítica sem horizonte histórico e social, o Estado deve ser presumido como entidade perene, sem tomá-lo como resultante de um devir histórico nem considerá-lo enredado em estruturas sociais específicas, dinâmicas e contraditórias. __________ 9