Edgard Matiello Júnior Paulo Capela Jaime Breilh Organizadores Ensaios Alternativos Latino-Americanos de Educação Física, Esportes e Saúde 2010 Copyright © 2010: dos autores. Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro do Esporte Orlando Silva Secretária Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer Rejane Penna Rodrigues Diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia do Esporte Leila Mirtes Santos de Magalhães Pinto Universidade Federal de Santa Catarina Organizador da obra Reitor Vitral Latino-Americano de Educação Física, Álvaro Toubes Prata Esportes e Saúde Vice-reitor Nome do(s) organizador(es) Carlos Alberto Justo da Silva Edgard Matiello Júnior, Paulo Capela e Jaime Breilh Instituto de Estudos Latino-Americanos Nildo Domingues Ouriques Revisão Patrícia Regina da Costa Grupo de Pesquisa – Vitral Latino-Americano de Educação Física, Projeto gráfico, diagramação Esportes e Saúde Annye Cristiny Tessaro Coordenador do Grupo de pesquisa Capa Edgard Matiello Júnior Leopoldo Nogueira e Silva Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) E59 Ensaios alternativos latino-americanos de educação física, esportes e saúde / organizadores Edgard Matiello Júnior, Paulo Capela, Jaime Breilh. – Florianópolis : Copiart, 2010. 200p. Inclui bibliografia e anexos. ISBN 978-85-99554-31-9 1. Esportes – Sociedade. 2. Esportes – América Latina. 3. Esportes – Saúde. 4. Educação física. 5. Globalização. 6. Capoeira. 7. Futebol. 8. Esportes – Educação. 9. Esportes – Ideologia. I. Matiello Júnior, Edgard. II. Capela, Paulo. III. Breilh, Jaime. CDU 796.316 CDD 796 (Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB 10/1507) As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e de inteira responsabilidade dos seus autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Ministério do Esporte, ou da Secretaria Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer. Venda proibida. Gráfica e Editora Copiart Ltda Rua São João, 247, Bairro Morrotes – Tubarão, SC, 88704-100 Fone/Fax (48) 3626-4481 – [email protected] Esporte e política Nildo Ouriques¹ O esporte é uma atividade social e, como tal, intrinseca- mente política. Essa é uma verdade elementar que no terreno das ciências sociais é de fácil reconhecimento, mas que, para o grande público, é de difícil aceitação. Afinal, na luta entre a paixão e a razão, a primeira parece eliminar qualquer exercício de racionalidade necessário para entender a função do esporte na sociedade capitalista. Nesta sociedade, em que os atletas se transformaram em mercadoria – sujeitos, portanto, a compra e venda – houve a transformação do esporte em um ramo da economia, em área de investimento, e a submissão completa ao critério da renta- bilidade empresarial passou a exigir de todos os envolvidos na atividade esportiva uma reflexão mais profunda do fenômeno esportivo em nossas sociedades. Contudo, o caráter mercantil que o esporte assumiu nas sociedades capitalistas parece ser o dado menos relevante para o grande público, de tal forma que a paixão por um pequeno país, a admiração por um atleta ou a devoção por um clube de futebol parecem não estar intimamente associados à capacidade financeira para a competição... Enfim, as possibilidades de um 1 Professor do Departamento de Economia e Presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA- UFSC) pequeno clube de vencer o campeonato brasileiro de futebol pos- suem íntima relação com a capacidade financeira que dispõe sempre associada a patrocinadores, contratos, etc., mas esse dado elementar parece não afetar em nada seus seguidores. Neste contexto, pode o esporte ser motivo de disputa polí- tica? Quais são as funções políticas que o esporte cumpre em nossa sociedade? Quais os limites entre a admiração por um esporte e a alienação política? Ora, na exata medida em que nas sociedades modernas sua evolução depende da acumula- ção de capital e cumpre funções cada dia mais importantes de legitimação ideológica diante do estado, é igualmente inevitável que também seja objeto da crítica emancipadora destinada a liberá- lo da dinâmica capitalista da produção do êxito e da glória e a necessária legitimação ideológica que atualmente cumpre. Não deve passar despercebido que um conjunto de profes- sores cuja atuação está limitada ao ensino universitário e em especial aos cursos de educação física tomem para si a tarefa da crítica política e sociológica que envolve as relações entre esporte e sociedade. Os professores cumprem, assim, um du- plo papel. Em primeiro lugar recolocam o tema para os profis- sionais da cultura física, estabelecem os nexos e evidenciam os princípios e consequências, em que a divisão social do traba- lho requer o silêncio, produto óbvio da alienação. Em segundo, espetam a sociologia dominante que se nega a tratar como uma prioridade um tema relevante para milhões de pessoas, vinculados tanto ao desenvolvimento das sociedades nacionais quanto ao mundo dos negócios em escala planetária. É curio- so e revelador que os estudos sociológicos, políticos e econômi- cos sobre o esporte, sob a forma de mercadoria, diminuem na medida em que este cresce em importância social, política e econômica. É possível subverter o esporte? Os ensaios aqui reunidos indicam uma resposta positiva para a pergunta. Indicam tam- bém que tanto na França e Alemanha quanto na Venezuela ou na Argentina, o esporte está em disputa; disputa teórica e po- lítica! Onde alguns o valoram como fator de coesão social ou- tros o revelam como fenômeno típico da alienação necessária à sociedade capitalista. Não deveríamos manifestar surpresa diante deste conflito, pois, ironicamente, é da natureza do es- porte a disputa! No Brasil, a consolidação de uma linha crítica sobre o esporte em geral, e o futebol em particular, tem nos escritos aqui reunidos uma contribuição importante para que a prática ou a paixão pelo esporte não impliquem em maior dose de alienação. Nesse contexto, não deveria ser realmente espanto- so que a atenção de um torcedor qualquer o leve a conhecer em detalhes todos os aspectos do esporte – situação do clube, disputas internas entre os dirigentes, contratação de jogadores, táticas adotadas na última partida – ao mesmo tempo que ignora a mesma dinâmica na trama entre os partidos políticos e sua relação com o estado, as alianças do governador e as prioridades do presidente da república. Também não deveria intrigar ninguém o fato de que as emissoras de rádio ou TVs e os jornais dediquem um tempo extraordinariamente precioso para acompanhar cotidianamente os detalhes de cada nova situação em um determinado clube ou modalidade esportiva. É preciso manter ocupada a atenção das maiorias de tal forma que ela mantenha sua atividade intelectual nos marcos da “pro- dução do consenso” que as escraviza socialmente enquanto potencializa seu gozo efêmero. O fenômeno é mundial, sem dúvida; mas no contexto da América Latina, marcada histori- camente pelo subdesenvolvimento e pela dependência, a situa- ção se agrava e ganha conteúdo dramático. Em nossa região, o esporte, especialmente o futebol, cumpre funções de legitimação da ordem dominante que não podem ser desprezí- veis. Na mesma medida, permite e exige um esforço de politização destinado a superar sua condição atual nos marcos da alienação social e política. O avanço na direção crítica fortalecida por estes ensaios permitirá, mais cedo do que tarde, a transformação do esporte de tal forma que ele também se inscreva no movimento global de luta contra a alienação e a dominação política que caracte- riza nossa sociedade. Apresentação 9 A Globalização e a Indústria do Esporte: saúde ou negócio? Jaime Breilh Edgard Matiello Júnior 15 Paulo Capela Uma Outra Cultura Esportiva é Possível: críticas e alternativas ao movimento olímpico internacional Arlindo de Souza Coelho Júnior Antônio Jorge Chadud Hugo Leonardo Fonseca da Silva 42 Marcelo Guina Ferreira Responsabilidade Social, ONGs e Esporte: o caso do Instituto Ayrton Senna no Brasil 55 Juliano Silveira Estado, Esporte e Ideologia na Venezuela: “Hacer deporte es hacer Revolución” Nilso Domingos Ouriques 71 Dagmar Mena Barreto Ensaios Alternativos Latino-Americanos de Educação Física, Esportes e Saúde Brasil e Argentina: estudo comparativo sobre conteúdos da educação física escolar e questões de gênero Suéllen Rogelin Maria do Carmo Saraiva 94 Verónica Alejandra Bergero A Capoeira é do Brasil? A Capoeira no contexto da Globalização 114 José Luiz Cirqueira Falcão O Esporte e a Educação na Contemporaneidade: ambiguidades, contradições e tensões sociais na França 140 Fábio Machado Pinto Sobre o Sistema de Complexos Homem-Esporte-Saúde: reflexões a partir de contribuições da Alemanha 159 Celi Zulke Taffarel 184 Declaración de Cuenca 199 Nosso manifesto pelo direito ao esporte no Brasil 8 Apresentação Apresentação Em diferentes regiões do planeta, através da mercadorização do esporte, são sustentados ideais de sobera- nia de nações sobre outras nações; são propostas alternativas mágicas de prevenção ao uso das drogas e da prática de vio- lências; e aventadas possibilidades de fuga da pobreza com rápida ascensão à riqueza, dentre tantos outros discursos simplistas e vazios de sentido, mas que são bastante úteis para reprodução das ideologias de dominação. Contudo, observadores atentos percebem facilmente o quanto o discurso já mundialmente consagrado – “esporte é saúde!” – tem seus limites, e mais que isto, percebem que este discurso faz parte de uma estratégia de inculcação de valores e práticas sociais que alienam, exploram e verdadeiramente des- troem a saúde dos praticantes, pois na lógica do esporte, mais do que o “tempo de fazer amigos” (slogan da Copa do Mundo da Alemanha 2006), o importante mesmo é exigir rendimento desumano e superar os limites de realização de negócios multimilionários de empresas de capital transnacional. Nem sempre os poderes que organizam esses negócios são perceptíveis aos trabalhadores do esporte (atletas). Nem sem- pre essas ações ficam claras também para os que assistem aos espetáculos esportivos. Também nem sempre os próprios pro- fissionais da área do esporte, no caso os professores de educa- ção física, são capazes de perceber o que está para além do espetáculo. 9
Description: