FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP Presidente do Conselho Curador António Manoel dos Santos Silva Diretor-Presidente José Castilho Marques Neto Assessor Editorial Jézio Hernani Bomfim Gutierre Conselho Editorial Acadêmico António Celso Wagner Zanin António de Pádua Pithon Cyrino Benedito Antunes Carlos Erivany Fantinati Isabel Maria F. R. Loureiro José Roberto Ferreira Lígia M. Vettorato Trevisan Maria Sueli Parreira de Arruda Raul Borges Guimarães Roberto Kraenkel Rosa Maria Feiteiro Cavalari Editora Executiva Christine Rohrig Editoras Assistentes Maria Apparecida F. M. Bussolotti Maria Dolores Frades Copyright © 1990 by Polity Press - Brasil Blackwell Titulo original em inglês: The Consequences of Modernity Copyright © 1991 da tradução brasileira: Editora UNESP da Fundação para o Desenvolvimento da Universidade Estadual Paulista (FUNDUNESP) Praça da Sé, 108 01001-900-São Paulo-SP Tel.:(0xx11)232-7171 Fax: (0xx11) 232-7172 Home page: www.editora.unesp.br E-mail: [email protected] Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) índices para catálogo sistemático: 1. Civilização moderna 909.08 2. Estrutura social: Sociologia 305 3. Pós-modernismo: Civilização 909.08 SUMÁRIO Prefácio I Introdução As Descontinuidades da Modernidade Segurança e Perigo, Confiança e Risco Sociologia e Modernidade Modernidade, Tempo e Espaço Desencaixe Confiança A Reflexividade da Modernidade Modernidade ou Pós-Modernidade? Sumário II As Dimensões Institucionais da Modernidade A Globalização da Modernidade Duas Perspectivas Teóricas Dimensões da Globalização III Confiança e Modernidade Confiança em Sistemas Abstratos Confiança e Perícia Confiança e Segurança Ontológica O Pré-Moderno e o Moderno IV Sistemas Abstratos e a Transformação da Intimidade Confiança e Relações Pessoais Confiança e Identidade Pessoal Risco e Perigo no Mundo Moderno Riscos e Segurança Ontológica Reações de Adaptação Uma Fenomenologia da Modernidade Desabilitaçâo e Reabilitação na Vida Cotidiana Objeções à Pós-Modernidade V Conduzindo o Carro de Jagrená Realismo Utópico Orientações Futuras: O Papel dos Movimentos Sociais Pós-Modernidade VI É a Modernidade um Projeto Ocidental? Observações Finais Notas E se este presente fosse a última noite do mundo? John Donne. Preces sob Ocasiões inesperadas O tempo imaginário é indistinguível das direções no espaço. Se se pode ir para o norte, pode-se virar e tomar o rumo sul; da mesma forma, se se pode ir para a frente no tempo imaginário, deve-se poder virar e ir para trás. Isto significa que não pode haver diferença importante entre as direções para a frente e para trás do tempo imaginário. Por outro lado, quando se olha para o tempo “real”, há uma diferença muito grande entre as direções para a frente e para trás, como todos sabemos. De onde vem esta diferença entre o passado e o futuro? Por que lembramos o passado e não o futuro? Stephen W. Hawking, Uma Breve História do Tempo Em março de 1986, um artigo de nove páginas sobre as instalações nucleares de Chernobyl apareceu numa edição em língua inglesa de Vida Soviética, sob o titulo de “Segurança Total”. Apenas um mês depois, na semana de 26-27 de abril, o pior acidente nuclear no mundo — até então — ocorreu na usina. James Beilini, Holocausto High Tech Quando descobrimos que há diversas culturas ao invés de apenas uma e consequentemente na hora em que reconhecemos o fim de um tipo de monopólio cultural, seja ele ilusório ou real, somos ameaçados com a destruição de nossa própria descoberta, subitamente torna-se possível que só existam outros, que nós próprios somos um ‘outro’ entre outros. Tendo desaparecido todos os significados e todas as metas, torna-se possível vagar pelas civilizações como através de vestígios e ruínas. Toda a espécie humana se torna um museu imaginário: aonde vamos este fim de semana — visitar as ruínas de Angkor ou dar uma volta no Tivoli de Copenhagen? Paul Ricoeur, “Civilizações e Culturas Nacionais”, em seu História e Verdade Prefácio Este livro é na verdade um ensaio alongado. Dividi-o em seções, ao invés de capítulos formais, a fim de desenvolver o fluxo dos argumentos de maneira ininterrupta. As ideias aqui expressas estão diretamente relacionadas aos meus escritos precedentes, e me refiro frequentemente a estes. Espero que o leitor compreenda e perdoe tal frequente auto-referência, que não pretende ser manifestação de hubris, mas uma maneira de fornecer apoio para afirmações que não podem ser exaustivamente defendidas numa obra desta brevidade. O livro começou a viver na forma das Raymond Fred West Memorial Lectures, que proferi na Stanford University, Califórnia, em abril de 1988. Sou muito grato aos meus anfitriões em Stanford naquela ocasião, cujas boas-vindas e hospitalidade foram maravilhosas. Em particular, sou agradecido a Grant Barnes, da Stanford Universky Press, que me fez o convite para dar as conferências, e sem o que esta obra não existiria. I Introdução No que se segue devo desenvolver uma análise institucional da modernidade com ênfases cultural e epistemológica. Assim fazendo, diferencio-me substancialmente da maioria das discussões em curso, nas quais estas ênfases estão revertidas. O que é modernidade? Como uma primeira aproximação, digamos simplesmente o seguinte: “modernidade” refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência. Isto associa a modernidade a um período de tempo e a uma localização geográfica inicial, mas por enquanto deixa suas características principais guardadas em segurança numa caixa preta. Hoje, no final do século XX, muita gente argumenta que estamos no limiar de uma nova era, a qual as ciências sociais devem responder e que está nos levando para além da própria modernidade. Uma estonteante variedade de termos tem sido sugerida para esta transição, alguns dos quais se referem positivamente à emergência de um novo tipo de sistema social (tal como a “sociedade de informação” ou a “sociedade de consumo”), mas cuja maioria sugere que, mais que um estado de coisas precedente, está chegando a um encerramento (“pós-modernidade”, “pós-modernismo”, “sociedade pós- industrial”, e assim por diante). Alguns dos debates sobre estas questões se concentram principalmente sobre transformações institucionais, particularmente as que sugerem que estamos nos deslocando de um sistema baseado na manufatura de bens materiais para outro relacionado mais centralmente com informação. Mais frequentemente, contudo, estas controvérsias enfocam amplamente questões de filosofia e epistemologia. Esta é a perspectiva característica, por exemplo, do autor que foi em primeiro lugar responsável pela popularização da noção de pós-modernidade, Jean-François Lyotard.{1} Como ele a representa, a pós-modernidade se refere a um deslocamento das tentativas de fundamentar a epistemologia, e da fé no progresso planejado humanamente. A condição da pós-modernidade é caracterizada por uma evaporação da grand narrative — o “enredo” dominante por meio do qual somos inseridos na história como seres tendo um passado definitivo e um futuro predizível. A perspectiva pós-moderna vê uma pluralidade de reivindicações heterogêneas de conhecimento, na qual a ciência não tem um lugar privilegiado. Uma resposta-padrão ao tipo de ideias expressas por Lyotard é procurar demonstrar que uma epistemologia coerente é possível — e que um conhecimento generalizável sobre a vida social e padrões de desenvolvimento social podem ser alcançados.{2} Mas eu quero fazer uma abordagem diferente. A desorientação que se expressa na sensação de que não se pode obter conhecimento sistemático sobre a organização social, devo argumentar, resulta, em primeiro lugar, da sensação de que muitos de nós temos sido apanhados num universo de eventos que não compreendemos plenamente, e que parecem em grande parte estar fora de nosso controle. Para analisar como isto veio a ocorrer, não basta meramente inventar novos termos, como pós-modernidade e o resto. Ao invés disso, temos que olhar novamente para a natureza da própria modernidade a qual, por certas razões bem específicas, tem sido insuficientemente abrangida, até agora, pelas ciências sociais. Em vez de estarmos entrando num período de pós-modernidade, estamos alcançando um período em que as consequências da modernidade estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes. Além da modernidade, devo argumentar, podemos perceber os contornos de uma ordem nova e diferente, que é “pós-moderna”; mas isto é bem diferente do que é atualmente chamado por muitos de “pós-modernidade”. As concepções que devo desenvolver têm seu ponto de origem no que chamei em outro lugar de uma interpretação “descontinuísta” do desenvolvimento social moderno.{3} Com isto quero dizer que as instituições sociais modernas são, sob alguns aspectos, únicas — diferentes em forma de todos os tipos de ordem tradicional. Capturar a natureza das descontinuidades em questão, devo dizer, é uma preliminar necessária para a análise do que a modernidade realmente é, bem como para o diagnóstico de suas consequências, para nós, no presente. Minha abordagem requer também uma breve discussão crítica de alguns dos pontos de vista dominantes na sociologia, como a disciplina mais integralmente envolvida com o estudo da vida social moderna. Dada sua orientação cultural e epistemológica, os debates sobre modernidade e pós-modernidade em sua maior parte não enfrentaram as deficiências das posições sociológicas estabelecidas. Uma interpretação preocupada principalmente com análise institucional, contudo, como é o caso de minha discussão, deve fazê-lo. Usando estas observações como um trampolim, na parte principal deste estudo devo tentar obter uma nova caracterização tanto da natureza da
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