Título original: Amon. Mein Grossvater hätte mich erschossen © 2013 por Rowohlt Verlag GmbH, Reinbek bei Hamburg © 2013 por Jennifer Teege e Nikola Sellmair Direitos de edição da obra em língua portuguesa no Brasil adquiridos pela AGIR, selo da EDITORA NOVA FRONTEIRA PARTICIPAÇÕES S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão do detentor do copirraite. EDITORA NOVA FRONTEIRA PARTICIPAÇÕES S.A. Rua Nova Jerusalém, 345 – Bonsucesso – 21042-235 Rio de Janeiro – RJ – Brasil Tel.: (21) 3882-8200 – Fax: (21)3882-8212/8313 CIP-Brasil. Catalogação na Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ T256a Teege, Jennifer Amon : meu avô teria me executado / Jennifer Teege ; Nikola Sellmair ; tradução Petê Rissatti. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Agir, 2014. 256 p. : 23 cm. Tradução de: Amon. Mein Grossvater hätte mich erschossen ISBN 9788522030293 1. Goeth, Amon Leopold, 1908-1946. 2. Nazistas - Alemanha - Biografia. 3. Holocausto judeu (1939-1945). 4. Alemanha - Política de governo, 1933-1945. I. Sellmair, Nikola. II. Título. 14-14175 CDD: 920.9943086 CDU: 929:94(43)’1945 Para Y. Sumário Prólogo A descoberta Capítulo 1 Eu, a neta de um genocida Capítulo 2 O senhor do campo de concentração de Plaszow: o avô, Amon Göth Capítulo 3 A mulher do comandante: a avó, Ruth Irene Kalder Capítulo 4 Uma vida com os mortos: a mãe, Monika Göth Capítulo 5 Netos das vítimas: os amigos em Israel Capítulo 6 Flores em Cracóvia Informações adicionais em literatura, no cinema e na internet Notas Prólogo A descoberta O olhar da mulher é o que me parece familiar. Estou na Biblioteca Central de Hamburgo, e tenho nas mãos um livro de capa vermelha que acabo de puxar da prateleira. Na capa, o retrato em preto e branco de uma mulher de meia-idade. Seu olhar é pensativo, um tanto extenuante, desanimado. Os vincos ao lado da boca apontam para baixo. Ela parece infeliz. Procuro o subtítulo: “A história da vida de Monika Göth, filha do comandante do campo de concentração do filme A lista de Schindler.” Monika Göth! Conheço esse nome. É o nome da minha mãe, que no passado me deixara em um orfanato e que não vejo há muitos anos. Antigamente, eu também me chamava “Göth”; nasci com esse sobrenome. Escrevi “Jennifer Göth” no meu primeiro caderno escolar — até a minha mãe me entregar para adoção e eu receber o sobrenome dos meus pais adotivos. Na época, eu tinha sete anos. Por que o nome da minha mãe está neste livro? Analiso a capa. Ao fundo, reconheço por trás da foto da mulher em preto e branco a sombra de um homem de boca aberta com uma metralhadora na mão. Deve ser o comandante do campo de concentração. De pronto, abro o livro e começo a folheá-lo, primeiro devagar, depois cada vez mais rápido. Não tem apenas texto, mas também muitas fotografias. As pessoas nas fotos, eu já as vi alguma vez? Uma das fotos mostra uma jovem alta de cabelos escuros que lembra a minha mãe. Em outra página, vejo uma mulher mais velha sentada num jardim inglês em Munique; ela está com um vestido florido. Tenho apenas poucas fotos da minha avó, e me lembro com precisão de todas: em uma delas, ela usa exatamente esse vestido. Abaixo da foto, está a legenda com o nome: “Ruth Irene Göth”. Esse é o nome da minha avó. Esta é a minha família? São fotos da minha mãe e da minha avó? Não, isso é impossível; não pode ser que exista um livro sobre a minha família e que eu não saiba de nada! Continuo a folheá-lo rapidamente. Bem no final, na última página, encontro uma biografia, que começa assim: Monika Göth, nascida em 1945, em Bad Tölz. Conheço essas datas do meu formulário de adoção. Aqui estão elas, preto no branco. É mesmo a minha mãe. É mesmo a minha família. Fecho o livro. Tudo está em silêncio. Alguém tosse em algum lugar no salão de leitura. Quero sair dali depressa, quero ficar sozinha com o livro. Abraço-o como um tesouro valioso, desço as escadas e passo pela seção de empréstimo. Não reparo no rosto da bibliotecária a quem entrego o livro. Vou para a grande praça diante da biblioteca. Os meus joelhos cedem. Encosto-me num banco, fecho os olhos. Atrás de mim, ouço o barulho da rua. O meu carro está do outro lado da rua, mas não consigo dirigir agora. Ergo-me algumas vezes, indecisa se devo continuar a leitura. Sinto-me horrorizada. Gostaria de ler o livro em paz, do começo ao fim, em casa. É um dia quente de agosto, mas as minhas mãos estão geladas. Disco o número do meu marido: “Pode vir me buscar? Encontrei um livro. Sobre a minha mãe e a minha família.” Por que a minha mãe nunca me disse nada sobre isso? Valho tão pouco assim, continuo valendo tão pouco? Quem é esse Amon Göth? O que foi que ele fez exatamente? Por que não sei nada sobre ele? O que ele tem a ver com A lista de Schindler? Assisti a esse filme há muito tempo. Ainda lembro que foi em meados dos anos 1990, durante o meu tempo de estudos em Israel. Todos falavam do drama do Holocausto de Steven Spielberg. Assisti ao filme apenas mais tarde, na televisão israelense. Estava sozinha, no meu quarto de república em Rehov Engel, a rua do Anjo, em Tel Aviv. Lembro ainda que achei o filme comovente; o final era hollywoodiano demais, excessivamente kitsch. Para mim, A lista de Schindler era apenas um filme, não tinha nada a ver comigo. Por que ninguém me disse a verdade? Por que mentiram para mim durante todos esses anos? Capítulo 1 Eu, a neta de um genocida “Na Alemanha, o Holocausto é uma história de família.” — Raoul Hilberg Nasci no dia 29 de junho de 1970, filha de Monika Göth e de pai nigeriano. Tinha quatro semanas de vida quando a minha mãe me deixou em um orfanato católico. Cresci sob os cuidados de freiras. Aos três anos, fui acolhida por uma família, que me adotou aos sete. Sou negra, e meus pais e irmãos adotivos são brancos; era evidente que eu não podia ser filha legítima. Mas os meus pais adotivos sempre afirmavam que me amavam como os seus filhos de sangue. Eles brincavam, faziam atividades e exercícios físicos nos grupos de pais e filhos comigo e com meus irmãos. Quando criança, mantive contato com a minha mãe biológica e a minha avó, mas com o tempo esse contato foi rompido. Da última vez que encontrei a minha mãe, eu tinha 21 anos. Agora, aos 38 anos, encontro esse livro. Por que eu puxei logo esse da estante, entre centenas de milhares de outros livros? Foi o destino? O dia começara como sempre. Meu marido estava no escritório, e eu havia levado meus filhos para a escolinha e seguido para a cidade. Queria passar na biblioteca; sempre vou até lá. Gosto do silêncio, de me concentrar nos livros, reunidos aos milhares em fileiras coloridas, nas estantes. Dos passos suaves dos visitantes, do farfalhar das páginas dos livros, das posturas dos leitores curvados sobre eles. Eu estava na seção de
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