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allan de paula oliveira PDF

352 Pages·2009·4.12 MB·Portuguese
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ALLAN DE PAULA OLIVEIRA MIGUILIM FOI PRA CIDADE SER CANTOR Uma antropologia da música sertaneja Tese apresentada como requisito parcial para o doutoramento em Antropologia Social. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal de Santa Catarina. Orientador: Prof. Dr. Rafael José de Menezes Bastos. Florianópolis 2009 RESUMO Este texto apresenta uma etnografia do universo da música sertaneja, a partir de um estudo que articula seus dois aspectos: o de gênero musical, com características discursivas específicas e reconhecidas por uma comunidade de ouvintes; o de campo social, marcado por processos de autonomia, especialização, e cindido em disputas por legitimidade. A partir de um trabalho de campo realizado em diversos locais voltados para a música sertaneja, sobretudo em Curitiba-PR, este texto pretende contribuir para a compreensão da dinâmica e das características de um importante gênero musical praticado na sociedade brasileira. Expressões-chave: a) música sertaneja b) música popular brasileira c) antropologia da música. ABSTRACT This text describes an ethnography of universe of música sertaneja, a kind of music very popular in Brazil, from a study that articulates its two aspects: as musical genre, with specifical discursive characters, renown by a community of listeners; as social field, marked by process of autonomy, specialization, and divided by fights to legitimacy. From a fieldwork realized in many places related with música sertaneja, chiefly in Curitiba-PR, this text would like to contribute to a comprehension of dynamics and of characteristics of an important musical genre very played in Brazilian society. Key-expressions: a) música sertaneja b) Brazilian popular music c) anthropology of music Agradecimentos Esta tese não poderia ter sido escrita sem a ajuda e o apoio de muitas pessoas e instituições que, em diferentes momentos, contribuíram para que o trabalho pudesse ser feito. Agradeço à CAPES e ao CNPq pela concessão de bolsas de doutorado a partir de outubro de 2004, sem as quais o trabalho não teria sido feito. Ao PPGAS/UFSC, seus professores e funcionários, pelo ambiente que faz da antropologia algo, antes de tudo, agradável. Aos professores Drs. Acácio Piedade e Miriam Hartung, que participaram da banca de qualificação do projeto de pesquisa, em dezembro de 2005. Agradeço a três professores que marcaram minha formação pela sua seriedade e, sobretudo, pelas provocações intelectuais: Ciméa Bevilacqua, Marcos Lanna e Márnio Teixeira-Pinto. Aos meus colegas de PPGAS, pelo companheirismo. Aos colegas de MUSA, pelos debates. Um agradecimento especial a Maria Eugênia Dominguez, minha amiga. Aos meus alunos e colegas na UDESC/SC, FAP/PR e UNIOESTE/PR, pelo incentivo. Em Florianópolis, agradeço a Alan Langdon, Jean Langdon, Tereza Franzoni, Marcela Dohms e Paulo Poli, Tiago Vehko. Em São Paulo, ao Homero e à Mariane; ao professor Marcos Napolitano. Em Pardinho-SP, ao poeta Carreirinho. Em Piracicaba, agradeço a Moacir Siqueira e aos funcionários da Secretaria de Cultura. Em Curitiba, agradeço à Patrícia Martins, Flávio Rocha, Grace Torres, Gustavo Portes, Grace Barros, Maikel Tavares, Grupo Viola Quebrada, Mauricy Pereira, Nélio Sprea. Um agradecimento aos professores do departamento de História da UFPR: Maria Luíza Andreazza, Ana Maria Burmester e Carlos Lima. Um agradecimento mais do que especial para Valéria Oliveira Santos, a Val, porque continuamos a nos reinventar. Esta tese não teria sido escrita sem o apoio afetivo de muitos amigos. Escreveria outra tese se nomeasse a todos. A Helder e Vanessa, Rodrigo Turin, Rafael Benthien e Fernando Nicollazi, Hilton e Jonas, agradeço não somente a amizade, mas também o prazer da prosa que vai do campeonato brasileiro da terceira divisão à Guimarães Rosa. Agradeço também à Nicole Lima, Juliana Teixeira Lima, Paulo Marcel, Adelson Jantsch e Carolina Tedesco, Fernanda Magalhães, André Duarte e Maria Rita Cesar, Fernanda Boechat, Gabriela Azevedo, Luciana Falcon, Tatiane Limont, André Egg e Flaviana Martins – todos estes, com sua presença, foram importantes neste trabalho. Muchas gracias a Natalia Gavazzo, que me revelou outras Buenos Aires. Um agradecimento especial a três pessoas que, nos últimos dois anos, invadiram minha vida com muito bom humor e uma certa implicância: Letícia (Lê Cubas), Janaína e Ana Carla. Ao João (que, espero, um dia aprenda a ouvir jazz) vai mais do que um agradecimento: vai a certeza que teremos histórias para contar. Os últimos seis meses de escrita foram marcados pela presença intensa e afetuosa de Maíra Lour – a ela, meu obrigado. À Teresa, Adão, Carolina e Allex: por serem os meus. “Obrigado” é pouco para a dívida que tenho com Rafael José de Menezes Bastos. Mais do que teorias e fundamentos, sua orientação me ensinou algo excepcional: que o pensamento tem o seu tempo e que este deve ser respeitado. E, por fim, agradeço a todas duplas, músicos, violeiros, aficionados, fãs, de música sertaneja com quem tive contato durante este trabalho. Tudo que escrevi se deve a eles. Toledo-PR, fevereiro de 2009. SUMÁRIO Introdução ................................................................................................................. p. 8 Capítulo 1 Música – A Música Sertaneja Como Gênero Musical .............................................. p. 37 Capítulo 2 Lugares – Espaços e Eventos da Música Sertaneja no Meio Urbano ........................ p. 73 Capítulo 3 O Campo da Música Sertaneja – Premissas Teóricas .............................................. p. 127 Capítulo 4 “Do Jeca Tatu às Emboladas” – O Caipira, o Sertanejo e a Constituição de um Campo Musical .................................................................................................................... p. 165 Capítulo 5 “Sertanejo é Sertanejo, Samba é Samba” – A Cristalização do Campo da Música Sertaneja .................................................................................................................. p. 233 Considerações Finais ............................................................................................. p. 320 Bibliografia ............................................................................................................. p. 324 Lista de Canções do CD Anexo Junto a este texto, segue anexo, um CD com muitas das canções citadas no trabalho. As gravações estão no formato MP3 e podem ser ouvidas em qualquer PC ou em aparelhos de som que reconheçam o formato. Canções e Intérpretes 1. “O Menino da Porteira” – Luizinho e Limeira 2. “Divino Espírito Santo” – Torrinha e Canhotinho 3. “Viva a Vida” – Milionário e José Rico 4. “Cana Verde” – Tonico e Tinoco 5. “Chitãozinho e Xororó” – Zé do Rancho e Zé do Pinho 6. “Boneca Cobiçada” – Palmeira e Biá 7. “Fio de Cabelo” – Chitãozinho e Xororó 8. “Tem e Não Tem” – Tião Carreiro e Pardinho 9. “Tudo Certo” – Tião Carreiro e Pardinho 10. “Canta Moçada” – Tonico e Tinoco 11. “Chifre do Capeta” – Rei Gaspar e Baltazar 12. “Tristeza do Jeca” – Tonico e Tinoco 13. “A Caneta e a Enxada” – Zico e Zeca 14. “Cabocla Teresa” – Torres e Florêncio 15. “A Vizinha” – Jota Júnior e Rodrigo 16. “Boi Amarelinho” – Alvarenga e Ranchinho 17. “A Alma do Ferreirinha” – Zilo e Zalo 18. “Chico Mineiro” – Torres e Florêncio 19. “Mágoa de Boiadeiro” – Ouro e Pinguinho 20. “Romance de uma Caveira” – Alvarenga e Ranchinho 21. “Rio de Ouro” – Vieira e Vieirinha 22. “Quatro Coisas” – Vieira e Vieirinha 23. “Epifonema” – Dino Franco e Mouraí 24. “Meu Reino Encantado” – João Mulato e Douradinho 25. “Pagode” – Tião Carreiro e Pardinho 26. “Deus Menino” – Moreno e Moreninho 27. “Índia” – Cascatinha e Inhana 28. “Saudade da Minha Terra” – Belmonte e Amarai 29. “O Tropeiro” (El Bandolero) – Milionário e José Rico 30. “Tribunal do Amor” – Milionário e José Rico 31. “Passarinho do Peito Amarelo” – Tibagi e Miltinho 32. “Praia Deserta” – Milionário e José Rico 33. “Anjo Meu” – Tony & Bryan 34. “Fuscão Preto” – Teodoro e Sampaio 35. “Dançando a Vanera” – Jota Júnior e Rodrigo 36. “Odeon” – Roberto Correa 37. “Meu Primeiro Amor” – Cascatinha e Inhana 38. “Índia” – Zelinda e Zelone 39. “Amor e Saudade” – Remédio e Veneno 40. “Ferreirinha” – Carreiro e Carreirinho 41. “La Paloma” – Cascatinha e Inhana 42. “Recordações de Ipacaraí” – Cascatinha e Inhana 43. “Gorrioncillo del Pecho Amarillo” – Miguel Aceves Mejia 44. “Amazonas Kid” – Léo Canhoto e Robertinho 45. “No Rancho Fundo” – Sílvio Caldas 46. “Country Roads” – Jota Júnior e Rodrigo 47. “Vai e Vem” – Jota Júnior e Rodrigo 48. “Galopeira” – Pedro Bento e Zé da Estrada Introdução “Quando se quer estudar os homens, é preciso olhar perto de si; mas para estudar o homem, é preciso aprender a dirigir para longe o olhar”. Esta citação de Rousseau, em seu “Ensaio sobre a origem das línguas”, deu a Lévi-Strauss (1993: 43) um mote para a definição de seu projeto teórico. Com ela, o antropólogo francês não somente homenageava um dos nomes do qual se apropriou em benefício de seu pensamento, mas também lembrava aos antropólogos a lição básica da disciplina: a articulação da unidade – o “homem” – com a diferença – o “longe”. Este olhar atento à distância, à alteridade, permitiria ao sujeito do conhecimento sua diluição – porque diante de outros cogitos – e posterior afirmação como um sujeito em uma relação com outros sujeitos. Um “cogito relacional”, portanto. Ao invés do “penso, logo existo”: outro pensa, logo existo. A meu ver, a beleza de tal construção deu à Antropologia a possibilidade de se constituir como um saber inclusivo com relação à humanidade – “uma filosofia com as pessoas dentro”, nas palavras de Tim Ingold (apud Viveiros de Castro 2002). O trabalho que deu origem a este texto foi realizado com esta passagem de Lévi- Strauss em mente. E o mote, quase a desculpa, para “olhar o longe” foi a música. Uns olham as relações de gênero; outros, a violência; o lazer; a subsistência e a organização social; o parentesco ou a religião. Os temas são infindos. O meu foi, em um sentido geral, a música. Mas não a música como aparece em manuais de estética e filosofia, um ente abstrato, relacionado com a produção de uma espécie de “catarse espiritual” a que a filosofia chamou de “experiência estética”. Este trabalho trata de uma música em sua manifestação concreta, na forma de um gênero musical, no uso que se faz dele para a construção de identidades, para a expressão de relações de poder, para a chancela de discursos sobre a sociedade, na exibição de status social, enfim, em uma infinidade de usos e significados dados a um tipo de música específico. Esta atenção ao saber local, em certa medida, é a porta de entrada da antropologia neste trabalho. O local, aqui, tem um nome: música sertaneja. Porém, é possível não chamá-la de o objeto de estudo deste trabalho. O objeto, de fato, está nela. Contudo, também está além dela. Enfim, está nas suas notas e no que se discursa sobre elas, nos seus timbres e naquilo que ela nos revela sobre os que a ouvem. Talvez fosse mais preciso definir este trabalho como uma “antropologia a partir da música sertaneja”. Neste ponto de vista, vários objetos são passíveis de estudo: os ouvintes, os músicos, o Brasil e a própria música sertaneja. “Olhar o longe” através da música e, particularmente, através da música sertaneja. A realização do trabalho que deu origem a este texto me ofereceu muitas questões para reflexão, relativa à natureza deste ponto de partida: música e, mais concretamente, música sertaneja. Lembro-me de um comentário irônico e crítico de um amigo: “Ao invés de aproveitar a música, você fica analisando”. Nesta frase transparece uma das mais fortes representações sobre a música no pensamento ocidental: algo para ser aproveitado e não analisado; algo de usufruto, não de estudo. “Estudar música” tem, entre nós, muito mais o aspecto referente ao aprendizado das habilidades relativas à execução de algum instrumento, à composição ou orquestração. Mesmo o estudo da música no plano analítico – conjugado na idéia de uma musicologia – tem um status de um saber auxiliar ao que é de fato o nosso uso da música: o usufruto. A música, portanto, enquanto objeto de estudo sofre os efeitos da concepção romântica sobre a arte, tão presente no nosso pensamento que adquiriu força de senso comum. Nesta concepção, desenvolvida em um longo processo histórico que durou alguns séculos, mas cristalizada nos séculos XVIII e XIX, a arte perdeu seu caráter de objeto de uso e foi alçada à condição de expressão do espírito, de tal ordem que ela se tornou um objeto “para além” da mera razão. Kant, Hegel, Schiller, Schopenhauer: os grandes nomes da filosofia do final do século XVIII e início do século XIX tomaram exatamente este ponto como objeto de desenvolvimento de suas diferentes teorias estéticas. Tratava-se da compreensão da natureza de algo que, para eles, não era redutível às leis da natureza. Recentemente, sociólogos como Norbert Elias (1995) ou Pierre Bourdieu (2007b) deram a este movimento, por reflexões distintas, o mesmo nome: a autonomia da arte. Tal autonomia, central para a compreensão de muito do que se pensou e escreveu sobre a arte nos últimos 150 anos – da idealização das belas-artes às teorias da cultura de massa – pôs a arte e, por extensão, a música, longe do alcance do saber científico. O máximo permitido aí eram análises da arte enquanto exercício de habilidades específicas, em um esforço que preservava concepções pré-modernas sobre a arte – a idéia de um ofício, de uma habilidade – mas que se resignava a isto: uma análise musicológica, por exemplo, da técnica contrapontística de Bach ou as orquestrações de Stravinski. Porém, era mantido o “mistério da arte” (“ao invés de aproveitar a música, você fica analisando”): como aquele contraponto ou orquestração produziam a experiência do belo fugia à possibilidade da análise. “Uma musicologia sem homem”, nas palavras de Menezes Bastos (1995). A constituição das ciências humanas, no século XIX, deu-se de forma concomitante a este movimento epistemológico, de redução da arte, e mais particularmente a música, enquanto objeto de ciência1. A antropologia não escapou a este dado, posto que sua origem se deu justamente neste momento de clivagem entre ciência e arte. Um bom exemplo disto é uma observação dos temas abordados nas 1 Neste ponto, vale lembrar da estética proposta por Hegel, segundo a qual se há alguma forma de arte que está mais próxima do espírito e da experiência estética, exatamente por sua abstração (ausência de concretude), esta arte é a música. E, por isso mesmo, seu estudo se faz difícil do ponto de vista da ciência. Cf. Hegel (1946: 143-148).

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dos anos 70 – bastante influenciada por um mistura de rock, música paraguaia e música mexicana – era . com uma dupla atual chamada Rick e Renner; escuto a primeira: violão, viola e passos de catira “Um alghoritme de generation de melodies utilisant um modele linguistique” In: On. Musica
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